Uma escolha entre o centro e a contestação

Publicado a

A sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC, divulgada esta quinta-feira, 27 de novembro, oferece pistas relevantes sobre as eleições presidenciais que se aproximam. Os resultados colocam Gouveia e Melo e André Ventura como os candidatos mais fortes para disputar uma eventual segunda volta. Tal como já indicava o Barómetro da Aximage para o DN, o almirante lidera nas intenções de voto em todos os cenários, surgindo como o favorito à vitória final.

Os números são claros: numa segunda volta, Gouveia e Melo venceria Ventura por 49% contra 23%. Contra Marques Mendes, a vantagem seria de 35% contra 31%. E frente a António José Seguro, o resultado seria 41% contra 24%. Por outro lado, qualquer adversário de Ventura parece reunir mais apoio do que o líder do Chega: Mendes venceria por 47% contra 24%, enquanto Seguro teria 42% contra 25%.

Estes dados, que valem o que valem, permitem retirar três conclusões principais. A primeira é que os favoritos à segunda volta são dois outsiders: Ventura, o candidato anti‑sistema, e Gouveia e Melo, o candidato que nunca foi político. A segunda é que Ventura, apesar de um resultado expressivo, enfrenta uma barreira quase intransponível: há mais eleitores contra si do que a favor, o que torna a sua eleição altamente improvável. A sua candidatura parece servir sobretudo para marcar território e preparar terreno para futuras legislativas. A terceira conclusão decorre da anterior: qualquer candidato que enfrente Ventura na segunda volta terá, muito provavelmente, caminho aberto para a Presidência.

Marques Mendes e António José Seguro disputam o mesmo espaço político, que vai da esquerda moderada ao centro‑direita. Para ambos, o desafio é conquistar o eleitorado que hoje se divide entre si e Gouveia e Melo. Quem conseguir ultrapassar o almirante e chegar à segunda volta enfrentará Ventura com o benefício adicional do “voto útil” contra o líder do Chega. No caso de Mendes, os números mostram que, mesmo contra Gouveia e Melo, poderia ter hipóteses reais de vitória, se conseguisse chegar à fase decisiva.

Convém, contudo, não esquecer que sondagens são apenas estudos de opinião. Indicam tendências, mas não decidem eleições. O momento da verdade será no dia 18 de janeiro, quando os portugueses forem às urnas. Até lá, os debates terão papel decisivo: candidatos como Seguro, Cotrim de Figueiredo e Catarina Martins poderão ganhar terreno, enquanto Gouveia e Melo, menos experiente nestas arenas, poderá enfrentar maior desgaste em termos de imagem.

Em última análise, estas presidenciais parecem encaminhar‑se para uma escolha entre o centro e a contestação. Se os números se confirmarem, o próximo Presidente da República será aquele que conseguir unir o eleitorado moderado contra Ventura. Mas só os debates e a campanha dirão se Gouveia e Melo manterá a dianteira ou se Mendes e Seguro conseguirão transformar sondagens em votos. O certo é que, mais do que nunca, o resultado dependerá da capacidade de conquistar o centro político - e de mobilizar o voto útil em nome da estabilidade.

Diretor do Diário de Notícias

Diário de Notícias
www.dn.pt