Foi das entrevistas DN/TSF que mais gosto me deu fazer no ano passado, a do chefe de Estado-Maior do Exército, General Eduardo Mendes Ferrão. Senti que estava perante um oficial orgulhoso da sua farda, dos seus militares, com objetivos bem definidos e uma particular sensibilidade para os desafios que se colocam nos recrutamentos com a nova geração de jovens. Não muito diferente dos outros chefes que também entrevistámos, o da Força Aérea, General Cartaxo Alves e o da Marinha, na altura o Almirante Gouveia e Melo. Mas para Mendes Ferrão o combate que tinha pela frente era mais pesado. O Exército foi o Ramo das Forças Armadas que mais perdeu militares e o seu efetivo estava em queda desde 2011. Na referida entrevista, Mendes Ferrão, sabendo as medidas que tinha tomado, estimava que, nesse ano, 2024, fosse possível estancar a redução de efetivos. Não podia estar mais certo. Como noticiamos nesta edição do Diário de Notícias, esse ciclo começou a inverter-se no último trimestre do ano, uma tendência confirmada agora, em fevereiro, com um aumento recorde de candidatos e de incorporações.“Há uma coisa que eu digo sempre às minhas estruturas de recrutamento: que não andem à procura dos cidadãos que não existem. Temos de perceber a juventude do nosso país. Temos de saber chegar à juventude do nosso país e temos de saber recrutá-la. Mas depois de os recrutar, também temos de os saber reter. (...) não vale a pena queixarmo-nos de que eles não aguentam estar longe do telemóvel. São assim. Temos de ter mais progressividade nas coisas. (...) Há os que andam mais depressa e há os que andam mais devagar. Isto é, do ponto de vista cognitivo, intelectual, da apreensão, os jovens estão muito mais capazes. Mas do ponto de vista físico, nós já sabemos que estão atrás. Precisamos de mais tempo para lhes dar as condições físicas”, salientava o CEME.Até essa altura tinha conseguido baixar as taxas de desistência dos recrutas na formação inicial, que eram de 30%, em média, para 13%, já um sinal de que a nova estratégia começava a dar resultados. Isto é uma boa notícia para o Exército, e para as Forças Armadas. Aos poucos parece estar a recuperar da sangria dos últimos anos, mesmo sem um Serviço Militar Obrigatório e com o investimento sério na Defesa ainda a ser uma miragem, com os 2% do PIB previstos para 2029.Mas será uma boa notícia para todos nós? Ao dia de hoje e com o atual contexto internacional é de preparação para a guerra de que estamos a falar. É de combate sério, seja pela nossa soberania, seja pela de outros países aliados. Preferia, sim preferia, que os jovens, os meus filhos, não precisassem sequer dessa saída de vida. Mas não é essa a realidade. É melhor que estejamos preparados. E que jovens decidam em consciência. Diretora adjunta do Diário de Notícias