Pode um governo minoritário lançar-se a fazer reformas estruturais? Não só pode, como deve. As reformas estruturais são passíveis de serem realizadas ainda que o governo tenha uma fragilidade política no Parlamento. Os partidos que bloquearem as reformas que o país precisa serão, seguramente, penalizados, nas urnas, nas eleições seguintes.2025 chegou. Será bom que o atual Governo pense o país à distância temporal de 10/15 anos.Há aspetos na sociedade portuguesa que carecem de mudanças profundas e que, dificilmente, são inadiáveis, sob pena de se comprometer o futuro das gerações vindouras.Percorrer o Interior de Portugal, como fiz na época natalícia, é desolador. Seja no Interior Norte, no Centro do país, ou no Alentejo atravessamos, sistematicamente, vilas e aldeias despovoadas onde não há a energia dos mais jovens e vivem apenas populações envelhecidas. É urgente que as empresas comecem a fixar-se nestas regiões. Há que pôr um ponto final no “faz de conta” a que os sucessivos governos têm praticado na questão da interioridade. O Governo tem de encontrar apoios e incentivos fiscais e outros, para que o tecido empresarial se espalhe por todo o país combatendo, assim, a macrocefalidade do litoral e do eixo Lisboa/Porto.Uma outra questão que terá de ser pensada a longo prazo é a demografia. Em setembro de 2024 nasceram em Portugal 7376 o que corresponde a uma diminuição de menos 244 nascimentos relativamente ao mesmo mês de 2023. Existiu, pois, um decréscimo de 3,2% no número de nados-vivos. Esta é uma situação que tem de ser invertida, se não quisermos continuar, anualmente, a perder população. Um bom índice populacional é o futuro do país.Não temos, também, visto no atual Governo uma vontade expressa de combater a burocracia que paralisa a máquina do Estado. Continua a ser difícil o sistema de licenciamento das empresas internacionais que se queiram instalar em Portugal. Os processos são lentos, complicados, exigindo pareceres desnecessários de um sem-número de entidades estatais que atrasam e bloqueiam a fixação de empresas estrangeiras no nosso país. Este é um dossiê que, seguramente, o Executivo terá de analisar em 2025, no sentido de uma facilitação dos objetivos pretendidos.Muito se tem falado de segurança nos últimos tempos, sobretudo devido à rusga efetivada pela PSP na Rua do Benformoso. Se o Governo está mesmo interessado em estabelecer bons parâmetros de segurança em 2025 terá de abandonar a lógica que tem seguido até ao momento.Para que as zonas citadinas onde campeia a droga, a violência e a insegurança se tornem mais seguras, é necessário uma presença de proximidade da polícia, seja com videovigilância, esquadras móveis e um patrulhamento permanente. As rusgas funcionam, momentaneamente, mas não a longo prazo, e não devolvem a segurança às áreas de maior índice de criminalidade.Finalmente o país não terá melhor saúde, segurança social, apoio à velhice e empregos atrativos para os mais jovens se não se desenvolver economicamente.A adoção do horário semanal das 35 horas embora, socialmente, compreensível, introduziu fatores de incerteza na produtividade do país. É, absolutamente, essencial que Portugal, em 2025 e nos anos que se seguem, continue a crescer economicamente. Só com esse crescimento será possível melhorar as funções sociais do Estado. Se queremos ter médicos, professores, funcionários qualificados, o Estado vai ter de lhes pagar o devido valor do seu trabalho, preparar carreiras atrativas e isso só se consegue com o aumento da produtividade do país e com crescimento económico significativo. Como tudo na vida, também, aqui “não há almoços grátis”.Interioridade, demografia, burocracia, segurança e produtividade. Estes são alguns dos principais desafios estruturais que o Governo terá de pensar e enfrentar em 2025. São questões decisivas para alterar a caracterização do país, tal como o conhecemos nos dias de hoje. Um governo que tenha ambição, uma agenda estrutural e modificadora do país, não pode deixar, em 2025, de pensar e agir, politicamente, sobre estes temas.*Jornalista