Um Trump atlântico, dará dimensão mediterrânica a Portugal!
Na semana passada, terminei da seguinte forma: “Primeiro o lúdico (2030) e depois o institucional (gasodutos)…” a propósito da necessidade de Portugal ser ainda mais claro relativamente à questão sahraoui. Concretizando, o lúdico aí está, com o concerto/celebração da Marcha Verde, no passado 6 de novembro na UCCLA, com música andaluza, na voz da “fadista marroquina” Sanaa Marahati, acompanhada de quinteto de cordas e precursão. Teremos aqui todo um mundo novo de reencontros com o que descobriremos ser memória colectiva, com o Sul, após o deslumbre que já não temos com o Norte!
No sábado passado, o Centro Português de Serigrafia, inaugurou na loja do CCB a exposição Raízes e Horizontes - Arte Marroquina no Feminino, um mergulho na arte contemporânea das primas Malika Agueznay, Najia Mehadji, Ghizlane Agzenaï, Madiha Sebbani e Rahma Lhoussig. Até 21 de novembro.
O institucional, vê agora com a eleição de Trump, outras vistas, também claras. Primeiro, a eleição de Trump é vista com ânimo a partir do Palácio: foi Trump que em 2020 enquadrou Marrocos e Israel nos Acordos de Abraão, reconhecendo de seguida o Sahara Marroquino. Quem diria que, 49 anos depois, Marrocos teria este respaldo internacional (mais França, Espanha, Alemanha, Holanda) relativamente à questão sahraoui?
Marrocos, enquanto estratégia de consolidação de Tânger a Lagouira, anunciou há um ano “a prioridade atlântica”, que passa pela construção do gasoduto Tânger-Nigéria (T-N) e pela construção do Porto de Dakhla, enquanto “porto-alfa” de abastecimento e acesso à hinterlândia saheliana. Estes dois dados conjugados com o projeto argelino de conclusão do gasoduto Trans-Sahariano, também em direcção à fonte, na Nigéria, poderão revolucionar este “lombo africano”, do Golfo da Guiné ao Mediterrâneo!
O que é que isto interessa a Portugal?
Tudo, a transformação última de Sines, está dependente da conclusão do T-N, para se tornar num produtor-referência de hidrogénio verde (H2V), que fará o “gás de Sines” (Olaf Scholz, Antena 1, 11.08.22) chegar à Europa Central, dando cunho de independência energética a um bloco que passará a ter cabeça no Cabo da Roca.
Conjugando esta Sines-referência com a extensão da Plataforma Continental, mais o “mercado das cablagens e amarrações”, Portugal poderá projectar mais 900 anos de independência, desde que o Sistema de Ensino também veja uma deriva para os mares.
Atlântico e Mediterrâneo! Ainda não percebeu? A “atlântica Sines” não está sozinha, joga com e depende de Marrocos e Espanha, sendo através destas catapultas que ganharemos dimensão mediterrânica, enquanto hub-produtor de H2V do Mediterrâneo Ocidental.
E Trump, vai nisto? Trump tem planos para abrir um consulado em Dakhla, pelo que “este gás chegará ao moinho Sines”, oxalá!
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Escreve de acordo com a antiga ortografia