Um problema a que não podemos fechar os olhos

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Bem sei que esta semana ficará marcada pela aprovação da proposta de Orçamento do Estado para 2026 e pela segunda volta das eleições para a presidência do maior clube português - em sócios, em ativo e em valor marca. O primeiro mexe com a carteiras e com outros aspetos da vida de todos os portugueses; o segundo mexe com uns quantos milhões de adeptos de um clube que anda arredado dos títulos, das contas certas e de uma certa estabilidade.

Mas a votação na generalidade da proposta de Orçamento do Estado para 2026, que acontece amanhã, não trará grandes surpresas, uma vez que o PS já afirmou que vai viabilizar, com a sua abstenção, a conta geral apresentada pelo governo AD.

Já a votação da segunda volta das presidenciais do Benfica põe frente a frente as duas candidaturas mais forte e bem preparadas; o incumbente e atual presidente Rui Costa e o João Noronha Lopes. Ficaram separados por quase 12 pontos (42,1% para Rui Costa e 30,2% para Noronha Lopes) e agora será preciso ver para onde cairão os 27,4% que foram para outros três candidatos na primeira volta.

Mas há outros temas que marcam a vida dos portugueses - por vezes de forma mais dolorosa e marcante. É difícil ficar indiferente às histórias e aos dados que constam na reportagem da jornalista Ana Mafalda Inácio, nas páginas 10 e 11 desta edição.

São dados que nos indicam que um em cada quatro portugueses sofre de obesidade e que sete em cada dez vive com excesso de peso. São dados que nos indicam que a obesidade é a doença com maior prevalência em Portugal; que está associada a outras 220 doenças (metabólicas, cardiovasculares, respiratórias, hepáticas, urinárias, de infertilidade e a 13 tipos de cancro). E que já custa ao SNS mais de 1,1 mil milhões de euros (6% do total das despesas de saúde) a cada ano. São números para refletir.

São números sobre os quais até já deveríamos ter refletido. Foi em julho de 2024, numa entrevista à CEO da Novo Nordisk Portugal, que ouvi estes dados pela primeira vez. É um problema claramente identificado pelos especialistas e pelos decisores políticos.

Nessa conversa, a gestora também questionava o porquê de Portugal ainda não ter medicamentos contra a obesidade comparticipados pelo SNS. Compreende-se, até comercialmente, o seu ponto de vista: a empresa que dirige é dona da patente de uma das substâncias ativas mais eficazes nesta área.

Esse facto não retira pertinência à sua questão, especialmente face aos dados da prevalência e impacto da obesidade em Portugal. E ainda menos retira sabermos que já nessa altura havia conversas com a ministra da tutela para se avançar com essa medida, tanto mais que um dos quatro pilares do Plano para a Saúde que a mesma ministra apresentou em março do ano passado era precisamente o combate à obesidade e co-morbilidades.

Há oito meses, em março, a secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, garantiu em entrevista à RTP que haveria medicamentos para a obesidade comparticipados até ao final deste ano. Faltam dois meses para fechar o ano e os imensos problemas que se verificam no SNS (desde as urgências que estão fechadas ao cada vez mais frequente nascimento de bebés em ambulâncias dos bombeiros) levam-me a crer que esta será mais uma medida de um programa de um plano que se perdeu pelo caminho.

Diário de Notícias
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