Recentemente foi dado um passo histórico para a construção de uma democracia europeia, com a aprovação, no Parlamento Europeu, de um novo e ambicioso texto legislativo eleitoral que definirá a forma como a Europa votará em 2024, incluindo a possibilidade de listas transnacionais..O Volt Europa entrou no Parlamento Europeu, nas últimas eleições europeias, com a ambição de reformar a União Europeia. A reforma das eleições europeias é o primeiro passo para este objetivo. O texto adotado pelo Parlamento foi, em parte, responsabilidade do deputado do Volt Europa, Damian Boeselager, que negociou o dossier em nome do grupo político dos Verdes/EFA, no Parlamento Europeu..Durante mais de 40 anos, a forma como votámos na Europa não sofreu alterações significativas. Houve vários esforços para mudar o sistema, mas todos falharam. A reforma aprovada abre a porta a uma democracia europeia funcional, que responsabilize as instituições da União Europeia, mas também os líderes e políticos nacionais. Uma democracia europeia aberta, competitiva e que promova a inovação, tornando a União Europeia mais resistente a ataques externos. Uma democracia, que após 40 anos, chegue finalmente ao século XXI -- uma democracia da UE 2.0..No que consistiu o texto aprovado? Entre outros aspetos, o Parlamento Europeu aprovou a possibilidade dos eleitores votarem em listas transnacionais num segundo boletim de voto nas próximas eleições Europeias. Este boletim de voto vai conter candidatos de uma lista à escala da União Europeia, com os logótipos das entidades políticas europeias aumentando a visibilidade dos partidos/movimentos políticos Europeus junto do eleitorado. Serão 28 deputados num círculo europeu adicional aos círculos nacionais já existentes..Como estas listas pan-europeias serão encabeçadas pelos candidatos à nomeação do Presidente da Comissão, esta reforma confirma o compromisso do Parlamento com o chamado princípio Spitzenkandidaten nas eleições Europeias. Ou seja, o próximo presidente da Comissão Europeia será potencialmente escrutinado em eleições europeias, ao contrário do formato atual que nos deu líderes europeus como Barroso..Os principais grupos políticos do Parlamento Europeu foram a favor desta iniciativa, embora os deputados dos países dentro de cada grupo tivessem liberdade de voto em emendas especificas. O resultado da votação portuguesa surpreendeu pela negativa. Todos os Eurodeputados Portugueses, com a exceção do Eurodeputado Independente Francisco Guerreiro e da Eurodeputada Socialista Margarida Marques, votaram contra a possibilidade de listas transnacionais..Mas o texto foi adotado vai mais longe que as listas transnacionais. Também inclui medidas como a possibilidade do voto aos 16 anos, ou que cada membro do Parlamento seja escrutinado a partir de normas uniformes de seleção de candidatos, de registo de um partido ou de apresentação de uma candidatura igual em toda a Europa..Existe uma forte possibilidade que esta reforma ambiciosa - que ainda precisa de uma aprovação por unanimidade no Conselho antes de ser adotada por cada Parlamento nacional - acabe sem efeito. Como cidadão Europeu, tenho o sonho de um dia poder votar numa lista Europeia -igual em todos os países da União Europeia - com um programa pan-europeu onde se defende uma Europa mais unida, democrática e federal. Um sonho que talvez seja uma utopia, mas que esta semana ficou mais perto..Membro da Comissão Política Volt Portugal