Combinações entre adversários para rateio de lugares e gabinetes, "gajos merdosos" como critério para juntas de freguesia, um "Frankenstein" em Loures desavindo com os criadores, instabilidade persistente, 13 governantes substituídos num só ano, serviços de informação convertidos em polícia política, o colapso no SNS, a Justiça caricaturada num ex-primeiro-ministro que encheu páginas de escândalos e está próximo de não ser julgado a benefício da prescrição, professores nas ruas, 52 % dos portugueses dependentes do Estado, a classe média exangue, debates parlamentares deprimentes na forma e nos termos, polarização crescente do sistema, se há coisa que não falta por aí, são sinais de decadência acelerada do regime democrático..A União Europeia e muitos milhões de euros entregues por Bruxelas vão servindo de cimento à 3.ª República. Mas se há evidência que a história mostra, é que nenhum regime foi alguma vez capaz de sobreviver ao colapso da ética e à perda irreversível da credibilidade..Durante a 1.ª República, a instabilidade política e social, a corrupção, a radicalização partidária, o anticlericalismo primário, a degradação da vida parlamentar e a falta de soluções políticas, abriram as portas ao Estado Novo. Comparativamente, o actual regime inovou na aceitação da alternância, na estabilidade dos mandatos, na durabilidade dos governos e na pedagogia que rejeita a violência como argumento nas ruas. Mas até por isso, a decadência assegurada pela mão de novos políticos, carregados do pior de velhos vícios, são pecados que nenhum verdadeiro democrata deveria tolerar..Perante sintomas de fim de ciclo, se o instinto primário apela à radicalização, que destrói, a inteligência só encontra caminho no senso que regenera. É exactamente aqui que o CDS-PP se coloca..Nos seus Ensaios, sobre a 1.ª República, António Sérgio escreveu: "revejo a minha primeira ida ao Parlamento como uma tela acinzentada num lusco-fusco da imaginação. (...) Nos homens, nenhum aprumo de vestuário, nem de atitudes, nem de expressão. Na imagem brumosa que me ficou da Câmara, destaca-se um vulto de sobretudo alvadio, todo espapaçado sobre o seu banco, com expressão de tédio de um borguista mole, extenuado, exangue, no morrer sonolento de alguma orgia. De perna estendida com ar de enjoo, encara de pálpebras semicerradas os seus colegas legisladores, dos quais alguns se mantêm sentados, outros em pé ou deambulando, muitos a falar do que lhes apetece e a abafar a voz do orador que ora ninguém ouve, nem quer ouvir, nem se sabe onde está (...).".Se muitas vezes, para se fazer melhor, basta não repetir os erros passados, por estes dias, o mimetismo é assustador..Adelino Amaro da Costa dizia que "a moderação na política serve-se da mudança, para evitar a ruptura." Antes, como agora, tanto sentido que isto faz.. Presidente do CDS-PP