Turismo: A Chave para um País mais Coeso e Justo

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O turismo é, há muito, um dos pilares da economia portuguesa. Mas reduzi-lo a números e percentagens do PIB seria ignorar a sua verdadeira natureza. O turismo é vida — é o pulsar de cada aldeia, cidade e paisagem que compõe o nosso território. É uma rede viva de pessoas que, com dedicação e talento, tornam Portugal acolhedor, memorável e único.

O turismo é feito de gente, de trabalhadores que recebem com um sorriso, de empresários que inovam, de artesãos que preservam tradições e de comunidades que partilham o que têm de mais autêntico. É identidade, cultura e autoestima coletiva. Quando um visitante saboreia o nosso vinho, transporta azeite português para casa ou se encanta com uma peça de cortiça, está a levar consigo um pedaço de Portugal. O turismo projeta-nos no mundo, dá palco às nossas raízes e multiplica o valor de tudo o que somos e produzimos.

Mas este motor só cumpre verdadeiramente o seu papel se for também instrumento de coesão territorial e social. Portugal é diverso, rico em paisagens e património, mas ainda muito desigual. Os grandes centros urbanos concentram atenções e visitantes, enquanto vastas regiões de baixa densidade permanecem à margem. É aqui que se desenha o desafio — e a oportunidade — para 2035: redistribuir os fluxos turísticos, fixar populações, gerar emprego e atrair investimento, transformando potencial em prosperidade.

Há sinais encorajadores. O Turismo de Portugal celebrou recentemente contratos de financiamento para 37 projetos no interior, num investimento de quase 26 milhões de euros — dos quais cerca de 17 milhões são incentivos não reembolsáveis da Linha +Interior Turismo. São iniciativas que vão da valorização dos Caminhos de Santiago à criação de museus, da requalificação de praias fluviais e parques biológicos ao turismo gastronómico e criativo, termalismo ou até ao astroturismo. São sementes de futuro que mostram como o turismo pode ser regenerador e transformador.

Hoje, o objetivo já não é apenas crescer em número de hóspedes. Esse marco foi atingido antes do previsto. A estratégia nacional aponta agora para algo mais profundo: adicionar valor. Valor ao turista, sim — mas também ao agricultor que cultiva os sabores da terra, ao pescador que desafia o mar ao amanhecer, ao artesão que molda a tradição com as mãos, ao viticultor que guarda histórias em cada garrafa e à fábrica que transforma tecidos em hospitalidade. O turismo é uma cadeia de valor que só cumpre a sua missão se for partilhada por todos.

Contudo, não podemos falar de prosperidade enquanto persistirem margens apertadas para os empresários e salários baixos para os trabalhadores. A escassez de pessoas para trabalhar no turismo é um alerta claro: não basta atrair turistas — é preciso que o turismo gere valor real para as pessoas e para os territórios. Valor que se traduza em melhores condições de vida, salários dignos e oportunidades concretas onde elas mais fazem falta.

Para isso, precisamos de mais do que boas intenções. Precisamos de infraestruturas que desbloqueiem o futuro, de menos burocracia, de uma fiscalidade mais justa e de políticas de habitação e de mobilidade adequadas às necessidades das famílias e dos trabalhadores. Não há “turismo a mais” em Portugal — há, sim, espaço para um turismo mais bem distribuído e mais humano.

Porque o turismo é também democracia. Foi ele que, nos anos 60, ajudou a abrir Portugal ao mundo. Hoje, continua a ser motor de liberdade, desenvolvimento e inclusão. É tempo de o pôr a abrir caminhos também dentro do país — rumo a novos destinos, novas oportunidades, mais equilíbrio e mais justiça territorial.

Porque o turismo, quando vivido com propósito, transforma destinos em comunidades felizes. “Turismo é Portugal” não é apenas um slogan. É um compromisso com o futuro. E é, acima de tudo, uma oportunidade de construir um país mais coeso, mais justo e mais feliz.

Secretária-Geral da AHRESP

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