Trump visto deste lado do Atlântico
Escrevo este artigo no dia em que os americanos votam numa das Eleições Presidenciais mais renhidas da História do país. Impossível arriscar previsões, quando nas sondagens nacionais ou nos Estados decisivos, como a Pensilvânia ou Nevada, as diferenças são quase nulas e muito dentro da margem de erro. Vale a pena, por isso, refletir sobre as consequências destas eleições para a Europa e para o Mundo, sobretudo se vencer Trump.
Trump, o polarizador que continua a rejeitar os resultados eleitorais de 2020. Harris, uma candidata decente, moderna, contra o grande bully. Trump, sobre quem (quase) toda esta campanha se focou. Após a desistência de Biden, foi ainda mais assim. Trump, uma máquina de campanha, com instintos acertados no que respeita aos sentimentos dos eleitores americanos - mesmo assim com deslizes para o absurdo, como a mentira sobre os imigrantes que comem animais de estimação.
Se Trump ganhar, o Mundo será ainda mais confrontacional. Regressará a política comercial agressiva do movimento MAGA, agora também em direção aos tradicionais parceiros transatlânticos e não apenas sobre a China. A economia mundial sofrerá, pois será inevitável a retaliação. O comércio global acabará por ser afetado.
Mas não é só na perspetiva económica que esta eleição pode ser sísmica para o Mundo.
Uma eleição de Trump deixará o Médio Oriente mais perigoso, pois Netanyahu terá ainda menos limites e os países árabes deixarão de ter uma voz moderada na Casa Branca a trabalhar por um cessar-fogo na região. O abandono por Trump da UNRWA e dos palestinianos, há cerca de oito anos, está ainda bem presente na mente de todos.
A Ucrânia seria impelida pela nova Administração americana a negociar uma qualquer paz, concedendo ganhos territoriais de jure ou de facto importantes. Se Zelensky não encontrar apoio suficiente na Europa, terá de ceder. A própria Europa arrisca deixar de ser um espaço de segurança, com a constante ameaça de novos expansionismos russos. O vencedor da noite eleitoral americana poderá afinal ser Putin.
As escolhas europeias estão, por isso, bem claras e, desde já, bem identificadas nos recentes relatórios produzidos a pedido de Von der Leyen.
A Europa tem de se tornar mais competitiva e ser mais capaz de promover a sua própria segurança e autonomia estratégica. Os riscos são demasiado grandes, e apenas exacerbados por estas eleições americanas. A verdade é que mesmo uma vitória de Harris não iliba a União Europeia de repensar a sua posição no Mundo.
Mas as consequências destas eleições são ainda maiores sobre as nossas sociedades. Os movimentos populistas globais ganharão (ainda) mais força, como já tinha acontecido aquando da primeira vitória de Trump. As vagas de extremismos e de políticas xenófobas acentuar-se-ão.
Estas eleições são sobre a América, mas na verdade são sobre todos nós.
5 valores: populismo na política em Loures
Como já vi escrever, com a aprovação de políticas de despejo das famílias de cidadãos condenados, em Loures, o Chega já ganhou, porque os adversários claudicaram na batalha dos valores e da dignidade.