Trump 'Chuan Jianguo'
Inúmeros comerciantes e homens de negócios chineses eram admiradores de Trump, um homem de negócios auto-glorificado. No seu primeiro mandato, a guerra tarifária e a promoção ativa da dissociação entre os EUA e a China entraram em choque com os interesses desses homens de negócios e com o orgulho nacionalista chinês e provocaram uma mudança nessa admiração. Todavia, a aura de líder político forte e determinado manteve-lhe algum respeito e consideração na China, similar à granjeada por Putin. Vá-se lá saber porquê, os chineses parecem ter algo na sua educação e formação que os faz ter admiração por líderes autocráticos…
Apesar de mitigada, essa consideração, mesclada com o pendor supersticioso de muitos chineses, levou a que muitos vendedores em várias plataformas de comércio eletrónico chinesas (ex: Taobao) e na Amazon tenham continuado a vender estátuas de Trump, normalmente cognominado de “XiTian DongFo TuLanPu”, o “Buda Omnisciente do Céu Ocidental”; na Amazon continuamos a poder adquirir – pela módica quantia de US$ 45 ~ 50 – estas estatuetas benfazejas.
Durante a pandemia de covid-19, a afirmação de Trump de que “ninguém conhece o coronavírus melhor do que eu”, granjeou-lhe a alcunha de “Dong Wang”, literalmente “Rei do Conhecimento” em chinês, com o significado de “sabichão”. Outras alcunhas pelas quais também é conhecido na China são “Grande Comandante” (“Da Tong Ling”, em chinês), e “o Imperador” (“Chuan Huang”), colocando ênfase na sua vertente autoritária, bem como “o Patrão” (“Chuan Zong”), por pretender gerir o Estado como uma empresa.
Após as novas guerras tarifárias abertas por Trump neste segundo mandato – com o clima de incerteza e instabilidade comercial, económica e financeira que criaram – a alcunha prevalecente na China é a de “Chuan Jianguo”, literalmente “Trump, o Construtor da Nação [Chinesa]”. O significado da expressão sarcástica não anda longe de “Camarada Trump”, no sentido de Trump ser um patriota dileto da China que está diligentemente promovendo os interesses chineses ao causar o caos económico e financeiro nos EUA.
Muitos chineses que a utilizam parecem considerar que, por dolorosas que sejam no curto prazo, as tarifas acabarão estimulando a China a ascender a líder económico mundial, num mundo multipolar onde as empresas chinesas ganham cada vez mais mercados em detrimento das empresas americanas, num sistema financeiro internacional em que o dólar desempenha um papel menos relevante, e em que o soft power norte-americano vai gradualmente diminuindo.
Não admira, por isso, que muitos continuem utilizando as suas estatuetas. Sob o olhar abençoador do Camarada Trump inspirando o trabalho nas unidades de produção e nos escritórios, ou meditando no tablier do seu automóvel, o futuro [da China e das empresas chinesas] é radioso.
Consultor financeiro e business developer