Segundo creio, três minutos é o limite de tempo dos resumos de jogos de futebol que podem passar nas televisões que não detêm direitos de transmissão das partidas.Uma partida de futebol tem 90 minutos de duração. Isto significa, no máximo, 60 minutos de futebol jogado, a que se somam 30 minutos de interrupções: faltas, verdadeiras ou simuladas, mas sempre espetaculares; demoradas reposições da bola em jogo; discussões com os adversários e o árbitro; substituições, em que os jogadores substituídos se arrastam numa interminável travessia do “retângulo de jogo” antes de abandonarem este; tele-diálogos mastigados entre o árbitro e o famoso VAR (vídeo-árbitro assistente – essa moderníssima e já polémica instituição do futebol, uma espécie de olho de lince virtual, que permite apurar que o marcador do suposto golo se encontrava com a ponta da bota, o dedo mindinho da mão esquerda, ou, mesmo, a ponta do apêndice nasal, de substancial envergadura, 11 milímetros para lá da linha de fora de jogo (uma linha imaginária misteriosa que muda de posição relativa conforme o canal de televisão que repete, vezes sem conta, as imagens da “infração”). Com tudo isto, uma partida prolonga-se até aos 110 minutos – dos quais apenas 60 foram, na melhor das hipóteses, jogados (no estádio, os outros 50 minutos foram gastos pelos espetadores a beber cerveja, a insultar a mãe do árbitro e a vandalizar o recinto, com destaque para as pobres cadeiras).Dito isto, percebe-se a suficiência de um resumo de três minutos para o espetador comum: vêem-se os golos, se tiverem existido, meia dúzia de faltas mais bem representadas e aplaudidas ou assobiadas, a grande penalidade que não foi assinalada, ou foi mal assinalada, – cinco vezes, uma das quais em câmara lenta – e aquele fora de jogo duvidoso dos 11 milímetros.Obtida esta conclusão, perguntei-me por que não aplicar a regra dos três minutos aos noticiários televisivos, que não costumam ter uma duração inferior a 90 minutos – (exceção feita à RTP2, que, porventura por essa brevidade noticiosa, volta e meia tem a existência em risco).Proponho-vos um exercício. Retiremos a esses 90 minutos:15 minutos de publicidade;30 minutos de informações já dadas em três noticiários do mesmo dia (seis, se forem canais especializados em informação);20 minutos de conversas da treta, entre pivôs mais interessados em exibir os seus supostos dotes de qualquer coisa do que ouvir os lugares comuns, as tolices e as estatísticas dos inúmeros especialistas em qualquer coisa, com destaque para militares reformados.5 minutos de aldrabices em mau inglês de Trump e dos seus sequazes;10 minutos de assuntos de “interesse nacional” - Sócrates, Spinumviva, incidentes nos reality shows, violações do segredo de justiça, caos no aeroporto de Lisboa;7 minutos de futebol falado - v. supra.Sobram 3 minutos – situação em Gaza, guerra na Ucrânia, partos em ambulâncias, alterações ambientais, violência doméstica em Portugal.Bastam para o mais importante, não?Antigo presidente do Tribunal Constitucional e subscritor do Manifesto 50+50 pela reforma da justiça.