Türkiye – Nunca brinquem com um ‘Joker’!

Publicado a

Joker, no sentido da “carta na manga”, do às de trunfo que se joga quando tudo parece perdido. A Turquia conta, no baralho internacional e quer contar ainda mais. Para tal, tem que continuar a jogar, a “dar cartas”, e esta semana, a Procuradoria-Geral da (República) Turquia, emitiu 37 mandados de captura, por genocídio e crimes contra a humanidade, em Gaza, visando à cabeça o PM israelita Benjamin Netanyahu e membros do seu governo e estrutura militar. O que é que isto significa?

Nada, absolutamente nada! Mas porque faz sentido?

Porque os códigos diplomáticos, voltaram a colocar o relógio atómico na mesinha de cabeceira! Ou seja, voltámos ao bluff vigente durante a guerra fria. Mestre Putin sabe ter o ascendente de um father figure sobre Trump e começou a “servir nuclear ao almoço e ao jantar”. A resposta do garoto foi óbvia, que ninguém tem misseis mais pontiagudos que o Bubba Gump Shrimp!

O que é importante perceber, é que este bluff “entre pai e filho”, vai correr mal, mas em simultâneo, será também momento que tudo permitirá, dentro da lógica do bluff. Nós, por exemplo, podemos voltar a reclamar as Molucas e os vigilantes das Berlengas, podem declarar-se independentes, desde que tenham internet!

É neste âmbito que a Turquia de Erdogan, fluente em otomano clássico, joga a sua influência e peso, no redesenhar da geopolítica do Médio Oriente, cujo arquitecto principal é um aprendiz-de-tudo-e-de-nada.

Washington talvez não saiba, mas há uma visão turca para o novo Médio Oriente, em curso, com pazes efectivas entre facções curdas e entre curdos e turcos. Só pela via da negociação, se consolidarão novos mapas, novas fronteiras, mais internas (administrativas) e não com novas soberanias, à excepção da Palestina. É neste âmbito que é importante a emissão dos mandados de captura ao PM israelita. No falhanço/vazio dos outros, a Turquia é empurrada a ser a defensora regional dos palestinianos. Aliás, “a flotilla de Gaza”, já vem de 2008, quando Erdogan quebrou o isolamento da Faixa, ao enviar víveres e ajuda médica. Ou seja, o PR da Turquia, perante o actual Estado Natureza do sistema internacional, sente-se tentado a assumir-se como o “Trump das Arábias”, pela oportunidade que o “nevoeiro nuclear” agora permite e, porque captou a mudança de código(s) diplomático(s), porque formou-se durante a vigência dessa língua-franca da “guerra improvável, paz impossível”!

Mais, a chave do Bósforo e dos Dardanelos, são a chave para o Kremlin. A Turquia pode ser o Joker de Putin, caso este aceite ser o Joker de Erdogan. Ambos têm 89 segundos, no Relógio do Juízo Final, para decidir.

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

Diário de Notícias
www.dn.pt