Triste fado, pouco foco

Publicado a
Atualizado a

É uma pena que a direita em Portugal não consiga ser uma oposição eficaz a um governo que tudo tem feito para merecer ser destituído.

Com a discussão a que assistimos diretamente da Assembleia da República ficámos todos a saber que os partidos de direita estão a debater a importância que cada um vai ter nas próximas eleições em vez de fazerem uma oposição estruturada e consistente a este governo.

Com tudo isto, saiu a ganhar António Costa que, em face da discussão entre os partidos da oposição, assistiu sentado a um teatro que teve inclusivamente o seu lado divertido para quem estava preocupado que o pusessem verdadeiramente em causa.

E isto quando, dentro do próprio governo e do partido socialista, se ouve constantemente que o governo muito faz para se expor às críticas.

Esta direita, que tem as suas diferenças em cada partido - exatamente paralelas às que tem a esquerda - deveria estar muito mais focada em se afirmar como alternativa do que a discutir quem vai ser o líder dessa alternativa.

À oposição compete, claro, a denúncia de todos os erros realizados pelo governo e a crítica ao programa que o governo tem ou não tem e que está em contraposição às suas ideias, mas compete-lhe, acima de tudo, apresentar propostas alternativas aos eleitores, de forma que estes sejam convencidos da bondade, da capacidade e da vantagem de votarem nessa alternativa.

É na conquista do eleitor que está o sucesso de qualquer força política.

É essencial compreender aquilo que move o eleitor na sua decisão de voto e, não descurando aquilo que defende cada partido, utilizar a linguagem mais acessível é compreensível para comunicar.

Na minha opinião, a direita está sempre demasiadamente focada na eficiência da criação de riqueza e pouco focada em projetos que promovam a sua distribuição.

A direita fala mais de economia do que de social, de cultura e de humanismo.

É verdade que sem a criação de riqueza não é possível a sua distribuição, mas, ao mesmo tempo, a importância da criação da riqueza só faz sentido se nos preocuparmos com a sua distribuição.

Pelo contrário, a esquerda muito fala da distribuição dessa riqueza e pouco trabalha na sua criação, pelo que no final dos seus períodos de governo a população tende a votar à direita, não tanto por estar convencida da sua bondade, mas por se tornar essencial ter de novo quem garanta o equilíbrio das contas do país, sem as quais não haveria pão para todos.

É neste e noutros assuntos que deveríamos ver a oposição a gastar o seu tempo de antena e não na discussão entre si mesma, criando um momento de glória ao governo que quer combater e destronar.

Aquilo a que assistimos nesta semana foi uma réplica do que temos assistido em países como a Venezuela e a Argentina em que se vivem realidades absolutamente inaceitáveis de governação que diariamente destrói a riqueza e a qualidade de vida e em que a oposição, por estar absorvida numa discussão de liderança, perdeu o foco do seu maior objetivo que é de se apresentar como alternativa viável ao mal que se vive aí.

É triste pensar que Portugal não tem solução política alternativa ao governo que hoje tem a responsabilidade de tratar do futuro do nosso país, porque os nossos líderes se preocupam com o que é secundário e se esquecem dos portugueses.

bruno.bobone.dn@gmail.com

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt