Internacionalizar a partir de um arquipélago no meio do Atlântico pode parecer, à primeira vista, uma contradição. Mas é precisamente na distância e no isolamento que o Festival Tremor, nascido em Ponta Delgada, encontrou um ponto de partida singular para pensar a circulação de música e de artistas — de Portugal para o mundo, mas também do mundo para os Açores.Fundámos o Tremor com a convicção de que a descentralização cultural é também uma forma de ativar novas rotas de circulação e de estabelecer ligações profundas com territórios. A ideia de que o mundo da música só acontece a partir de grandes centros urbanos está, felizmente, a ser reconfigurada. E os Açores têm hoje um papel relevante neste novo mapa — como ponto de escuta, lugar de experimentação e de encontro entre artistas, públicos e programadores.Ao longo da última década, o Tremor tem trabalhado com agentes culturais e parceiros nacionais e internacionais para criar contextos favoráveis ao intercâmbio artístico. A programação do festival combina artistas emergentes e consagrados, mas o que procuramos vai para além do cartaz: é sobre construir ligações que se prolongam no tempo, abrir portas a novas possibilidades de digressão, ou inspirar colaborações que ultrapassam fronteiras.Foi nesse espírito que nos juntámos à rede European Talent Exchange, onde encontramos os colegas do gabinete de exportação WHY Portugal e do Westway, com quem partilhamos objetivos e visões estratégicas.A internacionalização, tal como a entendemos, não é um caminho linear. Envolve risco, continuidade, conhecimento profundo dos mercados e capacidade de adaptação. Mas também depende de estruturas que garantam visibilidade, apoio e ferramentas a quem cria. Nesse sentido, é fundamental que os festivais — especialmente os que operam fora dos grandes centros — possam assumir um papel ativo neste processo, não apenas como plataformas de programação, mas como agentes culturais que contribuem para a transformação do setor.A partir dos Açores, continuamos a trabalhar com essa ambição: mostrar que a periferia pode ser centro, que a distância pode ser vantagem, e que a música, quando tem espaço para respirar, encontra sempre forma de atravessar o mar.