O acidente no Elevador da Glória não pode ser encarado como um episódio isolado, atingiu-nos diretamente enquanto comunidade. Expôs fragilidades estruturais na forma como a cidade tem sido gerida neste mandato e levanta questões sérias sobre responsabilidade política. É consequência de uma gestão que privilegia a aparência em detrimento da substância. Isto enquadra-se na visão liberal que Carlos Moedas tem da economia e da gestão da cidade: os dinheiros públicos são para os unicórnios, para a web summit e os grandes eventos, votando aos mínimos a segurança, a área social, a habitação, a qualidade dos serviços e respostas à comunidade.O que aconteceu revela de forma brutal as vulnerabilidades de uma política que negligencia o cuidar das pessoas em favor dos interesses do mercado e incapaz de responder à realidade de Lisboa, inclusive numa infraestrutura que, além da sua simbologia histórica, é um meio de transporte essencial para moradores e visitantes, com uma procura evidente. A Câmara Municipal de Lisboa é a entidade responsável pela fiscalização e manutenção do elevador, e de estruturas similares, definindo critérios e assumindo os respetivos custos. No entanto, esses parâmetros parecem desajustados face à carga de utilização atual, marcada pelo intenso uso turístico, e não garantem o equilíbrio com as necessidades da população local. O resultado desta falha foi uma tragédia que nunca devia ter acontecido. É indispensável compreender o que correu mal, apurar responsabilidades, retirar consequências políticas e corrigir o modelo de gestão que se revelou insuficiente e desadequado.Vários alertas foram feitos ao longo dos últimos anos, quer pelos trabalhadores, quer por diversas forças políticas, nomeadamente pela vereação dos Cidadãos por Lisboa, denunciando a descapitalização da Carris e a falta de investimento na manutenção de infraestruturas essenciais: do espaço público que está visivelmente degradado e descuidado, em particular os passeios, à higiene urbana e ao cenário de degradação que vemos com o lixo na cidade. A responsabilidade política não deve ser escrutinada apenas em períodos eleitorais, mas diariamente, em cada decisão e em cada omissão. O presidente da câmara, Carlos Moedas, não pode continuar a vitimizar-se perante a crítica, deve responder obviamente como candidato, mas sobretudo como responsável máximo da autarquia, em funções. O que está em causa não é apenas a segurança de um equipamento centenário, mas a confiança dos cidadãos na gestão da sua cidade. Carlos Moedas tinha tentado encobrir a falta de cuidado com a cidade dirigindo a sua narrativa às questões da (in)segurança, com foco na população imigrante. Falhou o alvo, afinal o problema grave de segurança não estava na Rua do Benformoso, manifestou-se com consequências terríveis numa estrutura sob sua tutela direta. É urgente compreender as causas, apurar responsabilidades e, sobretudo, agir para que a cidade volte a ser pensada em função das pessoas que nela vivem e circulam e não como mero espaço para um mercantilismo desabrido. As vítimas, os seus familiares e todos os que usam Lisboa exigem-no – e com toda a razão. A cidade precisa de responsabilidade, coragem e mudança – não de mais promessas adiadas. Vereadora independente, Cidadãos Por Lisboa, na CML