'This is Sparta'!

Publicado a

Este título remete para um grito que ficou marcado na história do cinema no filme 300, vociferado pelo rei Leónidas, de Esparta, contra o enviado do rei dos persas, que os queria conquistar. É um grito contra a subjugação, contra um domínio cultural, militar, político, um grito de independência e defesa da identidade. Lembrei-me disto a propósito do tema que tem andado em debate há dias. Foi um alvoroço por todo o lado a aprovação da chamada “lei da burka” no Parlamento português. Desde o argumento que isso é atentar contra a liberdade religiosa até à discussão da mulher muçulmana ser livre para optar usar uma vestimenta a tapar-lhe a cara ou não (o sublinhado é propositado). Que Portugal é um país tolerante e hospitaleiro e esta lei está a segregar, discriminar e guetizar os muçulmanos ou aqueles que têm uma cultura diferente da nossa. Que devemos respeitar as opções religiosas de quem escolheu Portugal para viver e “amar” como seu próprio país – visto que, segundo o candidato presidencial Gouveia e Melo, passada uma década, não há nada que distinga um estrangeiro de um português (um dia falarei sobre essa afirmação completamente néscia e descabida. Adiante).

Vejamos a questão da liberdade religiosa: imaginemos que um descendente directo dos Astecas, que acredita e idolatra os deuses do panteão mexica e, como um bom praticante dessa religião, defende sacrifícios humanos. Vamos deixar esse praticante “ortodoxo” da religião asteca matar pessoas para apaziguar os seus deuses? Pois, o exemplo absurdo é proporcional ao absurdo da argumentação da liberdade religiosa. Se os portugueses, cristãos ou não, são proibidos de andar em lugares públicos de cara tapada, salvo particulares excepções ao abrigo da constituição, por variadas razões – incluindo a de segurança – porque no caso da burka e do niqab não pode ser proibido? E onde está dito no Corão que é obrigatório estarem as mulheres completamente tapadas? Esse dado foi uma interpretação feita por homens extremistas, misóginos e que olham para as mulheres como objectos. Como propriedade.

Foi assim que começou o uso de vestimentas que cobriam as mulheres. A liberdade delas não existe. Se querem andar assim ou não têm outra hipótese, por pressão cultural ou familiar, façam-no no local que tem como base essa cultura e essa dinâmica de sociedade. Aqui, não. A nossa matriz cultural e civilizacional é outra. Quem quer vir por bem, adapta-se. Quem não quer adaptar-se, não venha ou vá embora. Isto não é Esparta: mas isto é a Europa.

Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS). Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

Diário de Notícias
www.dn.pt