Tenho um elefante cor de laranja

Publicado a

Era uma vez um menino, com não mais de 6 anos de idade, que começou a dizer que tinha um elefante cor de laranja.

“Um elefante cor de laranja?” - perguntavam os pais. “Não digas disparates.”

“Um elefante cor de laranja?” - indagava a professora. “Olha que não se mente!”

“Um elefante cor de laranja?” - gozavam os colegas. “Estás maluco!”

E assim reagiam todos a esta grande novidade. Com gozo e descrédito.

O tempo passou e o menino continuou a dizer que tinha um elefante cor de laranja. Rabiscava-o em todos os pedacinhos de folhas que encontrava, muito grande, alto e arredondado, uma tromba gigante e umas orelhas penduradas.

À noite, deitado na cama, fechava os olhos com muita força para tentar tirar aquela imagem luminosa da sua mente e conseguir dormir. É que o elefante era de um laranja quase fluorescente!

Preocupados, os pais falaram com a professora.

Será apenas um amigo imaginário? Mas quem raio escolhe como amigo imaginário um elefante cor de laranja?

Será um delírio? Um sinal de uma patologia tão grave que certamente exigia medicação?

Será uma forma de se exibir perante todos e de chamar a atenção? Mas chamar a atenção para quê?

Sem respostas conclusivas, e já em desespero, os pais procuraram o melhor médico da cidade. Seguramente, ele saberia o que fazer.

Curioso com tão raro caso, o médico olhou, escutou, auscultou e mediu. Pesou, voltou a pesar e, novamente, escutou.

“É um caso muito simples”, informou, no final da consulta.

Os pais respiraram de alívio… e que medicação receitava o médico?

“A receita está desenhada nesta folha de papel”, anunciou. “Arranjem um elefante cor de laranja.”

O médico estava louco, só podia ser. Então a receita era um elefante cor de laranja??

Baixando os óculos com ar sabedor, o médico sentenciou: “Há um elefante na vida desta criança, seja ele cor de laranja, amarelo torrado ou lilás às bolinhas verdes. Encontrem-no e falem sobre ele.”

Penso que, de uma forma ou de outra, todos temos um elefante cor de laranja na nossa vida.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

Diário de Notícias
www.dn.pt