Esta é uma pergunta que cada vez mais se ouve por parte de crianças e jovens durante as férias de verão, e que não deixa de nos surpreender. Mas, então, não preferem estar de férias? Não desejam dormir sem horário para acordar, brincar e passear ou, simplesmente, não fazer nada e ver o tempo a passar?Contrariamente ao que possamos pensar, muitas – mas mesmo muitas – crianças e jovens contam os dias para o final das férias, desejando regressar à escola. Infelizmente, este desejo de regresso não se justifica pela escola em si e pelas aprendizagens, mas sim pelo que a escola significa.Ir para a escola significa ter algo para comer. Significa distância dos berros e das agressões. Significa ainda ter o apoio de adultos sentidos como protetores. Ir para a escola significa, afinal, sair de casa e estar longe da família.Para muitas crianças e jovens, as refeições que comem na escola são as únicas dignas desse nome. E não falamos apenas das famílias que reconhecem viver em situação de pobreza – falamos também daquelas que mascaram as suas dificuldades com telemóveis de última geração e carros topo de gama, e onde reina uma profunda negligência da qual ninguém suspeita.É também nos períodos de férias escolares que as famílias acabam por passar mais tempo juntas. E se, para muitas famílias, as férias significam proximidade afetiva, tempo de qualidade, reencontros e diversão, para outras tantas equivalem a discussões e conflitos. Conflitos entre os pais, aos quais as crianças assistem na primeira fila, conflitos entre pais e filhos, conflitos com as famílias de origem.As férias são ainda, por excelência, palco de conflitos exacerbados no contexto das separações e divórcios. Datas de transições que não se cumprem, férias arrancadas a ferro (por vezes com multas e mandados de condução) ou, ainda, raptos parentais.Neste contexto, a escola acaba por ser, para muitas crianças e jovens, o seu refúgio. O local seguro onde podem conviver e interagir com os seus pares, desabafar com o professor eleito como figura de confiança ou beneficiar da ajuda terapêutica do psicólogo que tem sempre a porta aberta. O local onde podem, pelo menos por algumas horas, tentar não pensar naquilo que os aflige e fazer de conta que têm uma vida saudável.Importa, por isso, investir, não apenas em políticas e estratégias que auxiliem as famílias, ao longo do seu ciclo de vida, numa perspetiva preventiva e remediativa, mas também olhar a escola como parte de um sistema que se deseja integrado. Os vários serviços, das mais diversas áreas, andam muitas vezes de costas voltadas, atuando em paralelo e sem um verdadeiro trabalho em rede.É preciso definir campos de atuação, comunicar adequadamente e articular, de modo a garantir uma intervenção coordenada e o apoio atempado e especializado a todas as crianças, jovens e adultos vítimas de qualquer forma de violência.Em paralelo, e nunca é demais repetir, precisamos de um maior investimento em ações preventivas, baseadas em evidência, continuadas ao longo do tempo e envolvendo diversos intervenientes – só dessa forma, sistémica e longitudinal (e não com ações pontuais em determinados dias do calendário) poderemos, efetivamente, mudar crenças, atitudes e comportamentos, prevenindo a violência e, ainda, interrompendo os ciclos transgeracionais que, sabemos, são frequentes.Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal