Tarifas Recíprocas ou Prática Unilateral? Abertura e Cooperação é o Caminho Certo
Recentemente, o governo dos Estados Unidos da América impôs tarifas recíprocas contra muitos países em nome da redução dos défices comerciais. As tarifas atuais dos EUA atingem o nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial. Os EUA impõem a coerção económica com o seu poder hegemónico aos parceiros comerciais, causando forte ansiedade na comunidade internacional.
Será que são os EUA que saem prejudicados no comércio internacional? Como a China vai responder às tarifas? Como a China e Portugal devem fortalecer a cooperação para reduzir o seu impacto? Gostaria de compartilhar as minhas opiniões convosco.
I. “Tarifas recíprocas” são práticas comerciais de bullying aplicadas sob o pretexto de justiça.
Os EUA têm uma vantagem absoluta no comércio de serviços, apesar de défices no comércio de bens, de acordo com dados da OMC. Em 2024, o superavit total do comércio de serviços dos EUA atingiu quase 300 mil milhões em dólares americanos. No que diz respeito ao comércio de serviços China-EUA, os dados mostram que, de 2001 a 2023, o superavit anual dos EUA aumentou 11,5 vezes, para 26,5 mil milhões dólares americanos. É um facto inabalável que os EUA têm obtido enormes lucros no comércio com a China.
Observando a história dos países desenvolvidos, quanto maior for o nível de desenvolvimento económico, menores ficam as tarifas. Como os EUA já passaram o estágio no qual o seu desenvolvimento requer proteção, agora insistem em “tarifas recíprocas” para privar o direito de desenvolvimento dos outros países. Para manter a sua hegemonia, os grandes países obrigam outros países a “transfundir sangue”, e quem perde são os países relativamente pequenos. Se assim for, a economia mundial cairá numa situação de mais fricção e menos confiança.
As pressões fiscais e os desafios económicos que os EUA hoje enfrentam originaram-se em si próprios. Despesas militares altas de longo prazo, operações militares em larga escala no exterior, políticas fiscais desequilibradas e abuso do status hegemónico do dólar são fatores importantes que levam à alta dívida e a pesada carga financeira. Culpar o resto do mundo por “aproveitar essas dificuldades” que são causadas por políticas internas e os próprios problemas estruturais económicos, e exigir compensação por meio de tarifas, é igual como “Está doente, mas exige os outros a tomarem remédios”. Isso não ajudará na resolução dos problemas profundos dos EUA.
II. A posição da China é clara: a porta está sempre aberta para a negociação, enquanto a determinação de lutar até o fim também é firme face a intimidação.
Perante a inconstância e a pressão dos EUA, a China adota resolutamente contramedidas, não apenas para proteger seus próprios direitos e interesses legítimos, mas também para proteger a justiça internacional e os interesses comuns de todas as partes. É normal que a China e os EUA, como dois grandes países com diferentes fases de desenvolvimento e sistemas económicos, tenham divergências na cooperação económica e comercial. A chave é encontrar soluções adequadas para os problemas através do diálogo e consulta com base no respeito pelos interesses fundamentais e os seus principais preocupações.
Desde que os EUA lançaram uma guerra comercial contra a China, o lado chinês tomou medidas para reduzir a sua dependência dos EUA e reforçar a diversificação comercial. Atualmente, o peso do comércio China-EUA no comércio externo total da China diminuiu gradualmente de 21,5% em 2002 para cerca de 11% em 2024. A China mantém a estabilidade do mercado através da regulação macroeconómica, impulsionando a procura interna, a otimização da estrutura económica, a expansão das importações e a promoção da inovação. Sendo a segunda maior economia do mundo e o segundo maior mercado consumidor de matérias-primas, a China tem a confiança e a ambição de fazer bem o seu próprio negócio e de se defender contra a incerteza do exterior.
A globalização económica é imparável e beneficia todo o mundo. O comércio livre é uma base importante para a prosperidade e o desenvolvimento económico dos países da UE, incluindo Portugal. Como a segunda e terceira maiores economias do mundo, as economias da China e da UE totalizam mais de um terço do total mundial. Em termos da globalização económica e do multilateralismo comercial, a China e a UE partilham a mesma posição e têm interesses comuns. Recentemente, o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, visitou a China e teve lugar o segundo diálogo estratégico China-Portugal entre os ministros dos negócios estrangeiros. Os dois lados chegaram aos consensos importantes na salvaguarda do multilateralismo e em promoção da abertura e a cooperação. Por ocasião dos 20 anos da Parceria Estratégica China-Portugal e dos 50 anos das Relações Diplomáticas China-UE, a China está disposta a trabalhar em conjunto com Portugal para promover ativamente as cooperações nos domínios como investimento, transformação verde, economia digital, inovação tecnológica, entre outros, e para elevar as relações sino-portuguesas ao novo patamar.
O Presidente Xi Jinping salientou que apagar a luz de outra pessoa não nos fará mais brilhantes e bloquear o caminho de outra pessoa não nos fará ir mais longe. O “muro das tarifas” não alterará a lei do mercado nem travará as cooperações. Não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias, o protecionismo e o unilateralismo não levam a lugar nenhum. Devemos olhar para o futuro, resistir ao comportamento de voltar atrás na história e recusar o protecionismo e o bullying. Devemos reunir esforços globais para fazer maior o “bolo” de desenvolvimento comum e salvaguardar conjuntamente o multilateralismo e a ordem económica e comercial internacional.
Embaixador da China em Portugal