Suspender os bullies não é solução
As adolescentes que agrediram um colega, que acabou por ser atropelado, foram suspensas da escola por alguns dias. Estamos perante uma punição ou um reforço positivo do bullying?
O bullying diz respeito a diversos comportamentos agressivos (como ameaçar, espalhar boatos, excluir deliberadamente alguém do grupo, agredir verbal ou fisicamente), humilhantes e de exclusão, efetuados de forma repetida e intencional. Quem agride (os bullies) usa o seu poder (força física ou psicológica, estatuto ou o acesso a informação constrangedora) para tentar controlar e prejudicar outras crianças.
Uma vez identificada uma situação desta natureza, o que fazer?
Suspender um agressor pode, em abstrato, funcionar como uma consequência negativa (punição), que tenderá a diminuir a probabilidade de repetição do comportamento indesejado. No entanto, pode ao mesmo tempo funcionar como um reforço positivo (recebe algo de gratificante, ficando em casa e podendo fazer outras atividades) ou reforço negativo (é retirado de um contexto - a escola - que pode ser sentido como adverso).
Assim sendo, ao invés de diminuir a probabilidade de repetição do comportamento que se pretende eliminar, a estratégia de suspensão pode, paradoxalmente, levar ao seu aumento.
Para ajudar uma criança (ou adolescente) agressora, é importante:
• Não negar o problema nem minimizar a sua gravidade.
• Não acreditar em tudo o que é dito. A manipulação é muito frequente e pode tentar culpabilizar a vítima.
• Controlar as emoções e conversar de modo tranquilo, de modo a perceber quais os motivos que conduziram a este tipo de comportamento.
• Orientar a criança para assumir a sua responsabilidade.
• Encorajar a empatia.
• Desenvolver um sistema de regras claro e coerente, em que os comportamentos desejados são reforçados e os comportamentos indesejados têm um custo ou uma perda associados.
Assim, mais do que suspender, devem ser adotadas estratégias de sobrecorreção, especialmente importantes quando o comportamento de alguém tem um impacto negativo em terceiros ou no meio envolvente. A criança agressora deve desenvolver ações concretas que ajudem a criança vítima a sentir-se melhor e a ser compensada, de alguma forma, pelos prejuízos sofridos, numa lógica de restituição e de minimização do dano.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal