Sr. Rui, um eterno sonhador de Marcas

Uma marca é um sonho do homem perpetuado na economia. Foi este homem, que há muitos anos, me inspirou a escrever esta frase e que, infelizmente, agora ganha ainda mais significado.

Morreu no dia do Pai, talvez para nos lembrar a "paternidade" que exerceu sobre tanta gente, muitos milhares de pessoas, onde orgulhosamente me incluo.

Este é o texto que sempre temi escrever. O Sr. Rui não era apenas um cliente, era um amigo. Ele e a sua família, sempre tiveram em mim um forte aliado e eu neles uma fonte de inspiração.

Com o Sr. Rui, como assim sempre me deixou tratá-lo, partilho uma parte da minha vida pelas marcas. Talvez tenha aprendido mais com ele do que lhe ensinei. A Delta foi uma escola de vida, sempre cheia de lições e de emoções que trazia para Lisboa, da Universidade da vida de Campo Maior.

Fiz um programa na RTP (tem já muitos anos) a que chamei imagi-Nação e onde o Sr. Rui foi o meu primeiro convidado. Criei uma rubrica em sua homenagem e que carinhosamente designei de Marketing Vadio. Talvez o Sr. Rui tivesse a mesma energia vadia que tinha o mestre Agostinho da Silva, quando simplificava as coisas.

A energia dos génios é a simplicidade com que vêm as coisas que os outros, ou não vêm, ou vêm através lentes muito complicadas.

Por ser tão sábio aprendi com ele coisas geniais: Para o Sr. Rui o acordo é a vitória (talvez existissem menos guerras e conflitos se praticássemos esta visão). Aprendi que o marketing se faz aos bocadinhos, sem medo de errar e sempre com os olhos postos para além do horizonte. Deste ensinamento desenvolvi a teoria dos pilares básicos para a construção de uma marca: coerência + paciência + persistência + resiliência. Aprendi com ele que as coisas boas custam sempre mais um pouco, mas que investir em coisas realmente bem-feitas, gera sempre mais rendimento.

Aprendi que se todos assumíssemos as nossas responsabilidades para com as comunidades em que nos inserimos, teríamos um país mais equilibrado, sem esta visão de desenvolvimento demasiado "litoralizada" e urbana.

Conheci o Sr. Rui numa intimidade empresarial, a de fazer Marcas, as s Marcas com que sempre sonhou e que sempre geriu com a ambição de quem sentia a responsabilidade por uma sociedade inteira. Para o Sr. Rui fazer uma marca, não era apenas um negócio, era criar mais oportunidades para "ajudar" mais pessoas.

Tenho com o Sr. Rui inúmeras histórias.

Recordo aqui uma das primeiras vezes que entrei na sua sala em Campo maior. Nesse dia tinha lá estado um alto representante da multinacional Sara Lee que foi apresentar uma oferta milionária para comprar a Delta. Veio à conversa e lembro-me de ele me dizer. "Carlos, uma família não se vende". Não me esqueci mais desta afirmação que foi para mim um cimento de esperança para as minhas convicções mais profundas sobre as marcas.

Recordo também, um certo dia que num intervalo de uma longa reunião, perguntei-lhe qual os critérios que usava para aprovar os milhares de pedidos de ajuda que recebia; logo percebi que de dentro daquele homem que a vida quis que fosse uma montanha exemplar, saiu um menino meio envergonhado pelo seu "vício" de ajudar. O Sr. Rui era uma espécie de viciado em ajudar: "Um bocadinho a cada um", como fazia questão de dizer; ou "gastar devagar para chegar para todos, pois são tantos os que precisam".

Claro que foi um astuto homem de negócios. Claro que quis sempre mais, mas nunca só para si, sempre para ter poder para partilhar com os outros.

Sempre me dizia que tínhamos de ter sucesso, porque o país era muito pobre e que tínhamos que ajudar as pessoas.

Aprendi inúmeras lições para a vida. De todas a que mais me inspira no domínio do meu trabalho, é a de que praticar o bem, pode ser o mais poderoso pilar de uma marca. O Sr. Rui foi verdadeiramente pioneiro na arte de transformar o bem no mais forte dos sabores do seu café e na sua mais poderosa ferramenta de marketing.

Não é por acaso que a marca Delta é a mais considerada pelos Portuguesa no que respeita ao seu quadrante social; e nesta matéria, o Sr. Rui e toda a sua família, têm assumido uma liderança consistente e publicamente reconhecida.

Dele escrevi uma das frases que mais uso: As marcas são os sonhos do homem perpetuados na economia. O Sr. Rui Nabeiro foi um exemplo de um eterno sonhador que desde cedo quis ter uma marca, deixar uma marca, ser uma marca.

Estou triste. O Sr. Rui morreu! Mas nunca deixará de viver em mim e em todos aqueles a quem tocou para sempre.

Um sentido abraço Sr. Rui.

Criador de Marcas. Presidente Ivity Brand Corp

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG