Somos oito mil milhões de paradoxos
O planeta esgotou-se! Isto dito por um designer é um paradoxo, pois o que está na génese desta profissão é o ato de criar.
Mas a verdade é que designers, arquitetos, engenheiros e outros que tais esgotaram esta esfera azul onde habitamos que é a nossa única alternativa.
Paradoxalmente são também as profissões que melhoraram e reinventaram os modos de vida e as vivências do ser humano. Mas fomos longe de mais.
E paradoxalmente também, são as mesmas profissões que tentam, quase em desespero, reverter os consumos do planeta, tentar criar alternativas e soluções que nos ensinem não só cuidar do planeta, mas também a reutilizar a quantidade absurda de artefactos que o mundo viu nascer.
E oito mil milhões é muita gente. É muita gente para a relação que criámos entre o mundo natural e o mundo fabricado. Ou melhor, não é muita gente, porque o problema não são as pessoas. Mas, e de forma antagónica, também são as pessoas, porque continuamos a não abdicar. Continuamos a não renunciar. A não resignar.
Estamos no tempo do digital. Estamos nos tempos dos desequilíbrios sociais, e estes são cada vez maiores, apesar de fecharmos os olhos a outras classes ou geografias.

© Carlos Rosa
Não tenho grande solução ou sugestão para abordar este problema. O que sei é que daqui por uns tempos teremos mais interesse numa notícia sobre água e hortaliças do que sobre a última startup ou sobre a compra de uma rede social.
Ao escorrer-se este texto, pode aparentar que coloco o problema no número de pessoas que o mundo integra. E não!
Nascemos mais, morre-se menos e cada vez mais tarde, é verdade, mas não me parece que seja esse o problema.
O problema está ali, umas linhas acima.
Nós não queremos abdicar. Resignar ou renunciar.
Não queremos mudar porque estamos confortáveis.
Sabemos que esgotámos o planeta, mas paradoxalmente queremos tudo o que temos e mais ainda. Queremos o que existe e o que ainda não existe. Queremos criar e criar mais e mais!
Estamos talvez no momento de olhar verdadeiramente a sério para as profissões que podem pôr a criação e a inovação ao serviço do planeta. Olhar e ouvi-las!
Este texto é um pedido, que quase, quase roça o paradoxo, pois este criativo pede que o ato de criar seja mais contido ou pelo menos mais regrado. Mais consciente e mais sustentável. Mais ouvido!
Porque sem critério, este planeta não chega!
Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia