"Soltem" lá os Leopard 2!

O envio de tanques Leopard 2 de Portugal para a Ucrânia transformou-se num daqueles episódios que começam a ser a "marca de água" deste governo.

Na quarta-feira, dia 25 de Janeiro, o ministro João Gomes Cravinho anunciava o envio de quatro tanques Leopard 2 para a Ucrânia. Dizia então o ministro: "Vai demorar dois ou três meses mas o importante é que está assumido o compromisso".

Sem sabermos o que se passou depois, ainda no mesmo dia 25 de janeiro, João Gomes Cravinho vinha declarar que não havia "nenhuma decisão sobre o envio de carros de combate portugueses para a Ucrânia".
Antes, a 19 de Janeiro, o presidente Zelensky tinha afirmado ao mundo que Portugal estava "disponível para enviar tanques para a Ucrânia".

O envio ou não de tanques Leopard 2 para ajudar Kiev é uma decisão iminentemente política. Cabe ao Governo português avaliar se deve ou não enviar tanques para a Ucrânia. Os militares, por seu lado, devem criar as condições para que os tanques destinados a robustecer a defesa ucraniana estejam em perfeitas condições de funcionamento. Se não existem na Brigada Mecanizada de Santa Margarida tanques no perfeito estado de operacionalidade, os militares devem alertar o Executivo para esse facto e exigirem os recursos necessários para tornar, totalmente, funcionais, os Leopard 2.

Após as declarações de João Gomes Cravinho, surgiram nos media sucessivas declarações díspares de fontes militares dando conta do estado de avaria e inoperacionalidade dos tanques. Ficámos a saber que temos 37 comprados à Holanda por 80 milhões de euros. Mas sobre este activo de 37 surgiram várias declarações desencontradas. Que tínhamos metade dos tanques avariados! Que, afinal, só tínhamos quatro operacionais!

Que os exercícios militares só se fazem com catorze carros de combate, porque são os que estão em estado de prontidão! Ou seja, ainda ninguém hoje parece saber qual o verdadeiro número de Leopard 2 em pleno funcionamento. Portanto, de novo, uma narrativa bem portuguesa.

No meio de todo este desconhecimento sobre o número de tanques em pleno funcionamento, no dia 27 de Janeiro o Conselho Superior de Defesa Nacional reuniu sem que nada tivesse vindo a público sobre o urgente assunto do envio dos Leopard 2. Aquele órgão máximo da hierarquia das Forças Armadas esteve a discutir a Lei de Programação Militar. Estranhas prioridades!

Claro que Portugal deve enviar tanques Leopard 2 para a Ucrânia. Ou enviá-los ou manifestar sem hesitações e margem para dúvidas a sua inteira disponibilidade para o envio dos tanques, articulando isso com a NATO e com os parceiros europeus.

Os Leopard 2 são necessários para os ucranianos defenderem o seu povo, a sua integridade territorial, o seu projecto de sociedade. São mais úteis na Ucrânia a protegerem os valores da Europa democrática do que a ganharem ferrugem em Santa Margarida.

Tive a oportunidade de ver num canal de televisão um especialista militar esclarecer que alguns dos Leopard 2 podem ter pequenas avarias, tais como um extintor fora de prazo ou uma borracha ressequida nas lagartas.

Então, será assim tão difícil colocar em pleno funcionamento um conjunto aceitável de Leopard 2 e disponibilizá-los para enviar para onde eles são mais necessários? A exemplo da Espanha que anunciou o envio de 4 a 6 do seu universo de Leopard 2. Ou estarão as Forças Armadas portuguesas, num estranho exercício de egoísmo, a pensar e a avaliar se o envio de tanques para a Ucrânia "afecta a capacidade do grupo de carros de combate da Brigada Mecanizada de Santa Margarida", como declarou um responsável militar. Como é que afecta se os nossos tanques estão quase todos inoperacionais?

Portanto, instituições políticas e militares entendam-se, e "soltem" lá os Leopard 2, enviando-os para onde eles são mais necessários. Para que a ajuda de Portugal à Ucrânia não se fique apenas pelas boas intenções e façamos o que tem de ser feito neste momento difícil que a Europa vive.


Jornalista

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