Senegal – Uma Escola para maridos em terra com três Primeiras-Damas!

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O mais exótico das últimas presidenciais senegalesas, em março de 2024, foi a vitória do candidato da oposição, Bassirou Diomaye Faye, actual Presidente (PR), que durante a campanha e tomada de posse, se fez acompanhar das suas três esposas! País de maioria muçulmana, o Senegal só há 10 anos começou a “policiar” e com aspas, o estrito cumprimento do jejum de Ramadão, em espaço público. Por alturas da Primavera Árabe, as quebras de jejum obedeciam a um livre-arbítrio dos crentes, que os empurrava para uma disputa semiclandestina sobre quem prevaricava primeiro, resultando a vitória em quem “comia antes de chegar à meta” e na praça pública!

O Senegal condensa as contradições da actual África, jovem, com telemóvel e cartão de eleitor no bolso, o que colocou os periféricos no centro e transformou o lúmpen em cidadãos, e muitos, com carregador e acesso à world wide web. Só desta forma, condição humana versus tecnologia, se compreende o surgimento de um pan-africanismo pós-ideológico e que quer, acima de tudo, ser prático e confortável.

Acrescentar também o facto de África estar escaldada com os “pan-islamismos árabes”, não menos colonizadores e aculturadores que os da Bíblia. Nesse sentido, também há uma fragrância, não de modernização, mas de actualização dos muçulmanos, e não do Islão, que começa a emanar de Dakar!

É nesse sentido que surge uma iniciativa das Nações Unidas, com o ardil da psicologia invertida necessária, a todo ambiente islâmico. A ideia é alavancar a “masculinidade positiva”, numa catequese pós-laboral, que o Imam Ibrahima Diane abraçou e promove na Grande Mesquita de Nietty Mbar - Dakar. No “anzol”, o Sunat do Profeta, os seus ditos e feitos, dos quais constam registos de que também terá lavado pratos e ajudado a primeira esposa, a arrumar a loiça! Se há um hadith que diz que o Profeta disse que “um homem que não ajuda/apoia a sua esposa e os seus filhos/as, não é um bom muçulmano”, é porque o Profeta ajudou/apoiou!

O Senegal do PR Diomaye Faye e do PM Ousmane Sonko, que prometeram em campanha rupturas significativas com a manutenção de um statu quo vigente e predador para a maioria descontente, refreou essas ambições com efeitos continentais, focando-se no que pode reorganizar dentro de portas, para depois as escancarar enquanto exemplo do novo pan-africanismo. Da energia, minérios, portos, aeroportos e religião, tudo está em reavaliação.

Quanto aos maridos e à escola, o objectivo principal, segundo o Ministério da Mulher e Família, é o combate à mortalidade infantil e aos futuros pan-africanistas. Assim se faz a revolução!

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt; Escreve de acordo com a antiga ortografia

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