No percurso vivido, encontrar sentido para si próprio e para o que está em torno é necessário. Dificilmente é cindível a condição humana da procura de sentido. Quem sou? O que fazer? A subjetividade é a impressão digital da Humanidade, cada ser, apesar do contexto social e histórico, encontra perguntas e respostas pessoais, mais ou menos alinhadas com grupos de pertença, mas vivenciadas de forma singular, pois ninguém pode substituir a experiência pessoal de outrem..A religiosidade, a abertura para um encontro pessoal e coletivo com a transcendência, é elemento identificável em todas as comunidades humanas, desde os primórdios. No momento em que se pergunta sobre o lugar pessoal na existência e a necessidade de escolher entre diversos tipos de ações possíveis que manifestam as formas de existir - quem sou, o que fazer - o impulso de ir, pensar, sentir, para lá da própria pele, ir, pensar, sentir, profundamente, dentro da própria pele, é um movimento quase incontrolável, uma poderosa ferramenta para dar sentido à multitude de perceções, emoções, pensamentos, interações que correspondem à vida de cada um. O caminho do humano mostra uma história, evidencia muitas histórias sobre os percursos pelos séculos, desde que os hominídeos desafiaram a gravidade e, de forma pouco natural, puseram-se de pé, libertaram os braços e as mãos do contacto permanente com a terra, eretos, colocaram os seus olhos na distância e compreenderam que há interrogações para lá do fio do horizonte..Nas perguntas houve, e há, respostas que fundem o real e o imaginário, o vivido e o imaginado, o compreendido e aquilo que não se consegue saber. Assim a magia e a religião desenharam sentidos para lá do que a vista alcança e as comunidades nómadas e sedentárias procuraram construir quadros de orientação para que a vida pessoal e coletiva ganhasse coesão e estabilidade..A mão de Deus esteve, está no corpo e na alma destes sentidos precisos para que a respiração se faça?.Porque respirar não é só uma pulsão binária entre a inspiração e a expiração, entre o oxigénio e o dióxido de carbono, entre a vida e a morte. A respiração é um ato estendido que cobre os tempos e os lugares de cada e todas as vidas - preciosas e tantas vezes negligenciadas -, o valor incomensurável de cada ser e de todos os seres, de cada existência e de todas as existências, a vida em ato, a respiração em movimento, a história em ação..Deus ou a sua ausência. Deus e a sua presença. Seja as religiões monoteístas, seja outras formas de encontro dos homens com a sua transcendência - vivida como proposta humana construída a partir das representações exclusivamente terrestres ou como encontro entre a terra e o céu - associam a ideia de sentido com a ideia de encanto, no quadro das suas formulações de propostas responsivas às perguntas "quem sou", "o que fazer". O encanto, que pode ser o desencanto do mundo - como dizia Max Weber - ou a sua transformação numa casa amorosamente habitada..Vivemos um Presente que nos gera, tantas vezes, dificuldades de encontro com o sentido e o encanto. Todavia, esse encontro ou desencontro, é uma escolha pessoal e coletiva, apesar de estar, hoje, profundamente condicionada pela pressão excessiva dos media, geração de um ruído de fundo que se torna em ruído imanente, uma produção totalitária de pressões quotidianas que poluem a respiração. Perde-se, na cacofonia das vozes, os sentidos e os encantos. Oblitera-se o território do silêncio, geografia necessária para a construção do eu e do nós. Desumaniza-se o humano na pressão do sobre-humano, inventado não tanto na procura de sentidos e encantos substantivos, mas da instrumentalização pessoal e social em ordem à economia de hiperconsumo..É no meio de guerras, fomes e eventos climáticos extremos - ou pelo menos, aquilo que mais se destaca no universo mediatizado - que ocorre, em Lisboa, Loures e Oeiras, a Jornada Mundial da Juventude 2023. Um encontro que junta centenas de milhares de jovens de todo o mundo, jovens que perguntam pelo sentido, pelo encanto, que procuram, como todos, viver as perguntas essenciais e nessa vivência encontrar alimento para a existência..Não é fácil, o mundo dos jovens de hoje, apesar de todos os meios de que dispõe a contemporaneidade. Gerações qualificadas como nunca em termos educativos e outras que merecem essas qualificações, vivem no pânico contido do Armagedão climático e do esgotamento de recursos naturais. Vivem as dificuldades de modelos organizacionais societais em colapso, rodeados de tentações extremistas e explorações demagógicas. Lutam pelo direito a uma vida pessoal com amor, estabilidade e perspetivas. A juventude é uma estação da vida humana em que há o direito de pensar e sentir: tudo é possível. É preciso defender esta expectativa legítima, dar sentido ao encanto. Afinal, são os jovens que tomarão conta dos destinos do mundo.