Saudades de Sampaio

Publicado a
Atualizado a

A discussão sobre os possíveis candidatos para as Eleições Presidenciais de 2026 (sim, leu bem, 2026), tem sido empurrada com muita força para a atualidade informativa. Como era expectável, tamanha insistência influencia as conversas do dia a dia. E nada melhor que ouvir com atenção o que se vai dizendo entre bicas e galões (e não lattes) nas mesas de café ou nos supermercados, os novos ágoras da vida moderna.

Entre o“não gosto de nenhum” ao “querem todos é poleiro”, ou “eu gosto do militar”, ouvi um inesperado “saudades do Sampaio”. Confesso que não estava à espera. Surpreso com o que acabara de ouvir, dei por mim a recordar o antigo Presidente da República Jorge Sampaio (1939-2021). Rapidamente me dei conta de que ainda nem 20 anos passaram desde o seu segundo e último mandato, e a diferença entre a política de então e a de  hoje é abissal. Não é mero saudosismo, é mais preocupação.

Com raríssimas exceções, sobretudo à direita, lembrar Sampaio é recordar competência, seriedade, bom senso e defesa de valores humanos e igualitários. E com um estilo muito próprio, bem diferente por exemplo de Soares, Cavaco ou Marcelo, mas funcional e que resolveu problemas - e não foram poucos. Valores esses, aqui personificados, que temo que não vão existir na discussão política para as próximas Presidenciais. Temo que sejamos lançados para o regabofe, para a política dos gritos, das vaias e da caça às manchetes durante a campanha para um lugar tão distinto como o da Presidência da República. E, dentro da hipótese, já imaginaram o pesadelo que seria ter um candidato populista dessa verve em Belém?

É tempo de sermos cidadãos exigentes, bem informados (o DN está aqui para isso mesmo) e de não ir atrás do que se vê nas redes sociais e do dizer mal por dizer, qual comentário de treinadores de bancada.  É o futuro do nosso país, dos nossos filhos e netos, não é um talk show de fim de tarde. Sampaio foi um dos políticos que soube resolver problemas graves com postura digna, com cabeça e com respeito pelos portugueses, por todos.

Levar para Belém alguém que seja a antítese disso pode ser muito perigoso para o país. E, como se sabe, com a República não se brinca! Todos temos tempo para pensar nisso, ainda há umas Eleições Autárquicas pelo meio, mas mais do que escolher lados e cores, há que pensar no que queremos, como país, na figura do nosso Presidente. E nos tempos que vivemos, essa escolha é muito mais importante do que alguma vez foi.

Editor do Diário de Notícias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt