Portugal vive um dos momentos políticos mais difíceis deste meio século de democracia. Democracia que todos nós, cada um a seu modo, ajudou a construir.É verdade que a incerteza financeira que marcou tantos períodos da nossa história recente parece estar afastada e também nos conforta verificar que a economia e o tecido empresarial funcionam com normalidade e com resultados positivos.De facto, os fundos que há quatro décadas chegam a Portugal vão-nos dando uma capacidade de mudança e de progresso que durante muitos anos não tivemos; e as novas gerações vão revelando uma capacidade empreendedora, de inovação e de investimento que representam uma verdadeira ruptura na nossa tradicional atitude pessimista, de conformismo e de aversão ao risco.Tudo isto não obsta a que o quadro político se venha degradando, com acentuada, e frequentemente gratuita, agressividade e com um radicalizar de posições que inviabiliza, ou pode inviabilizar, o necessário diálogo entre as forças políticas democráticas.De facto, as dificuldades com que o mundo se confronta de forma cada vez mais violenta, a par de uma cada vez mais fragmentada representação política, em Portugal e na Europa, exigem uma atitude de mobilização cidadã e de liderança política que só um profundo e consolidado conhecimento do mundo, do país e dos seus protagonistas conseguirão alcançar.Vivemos um regime político pensado e construído assumindo a existência de duas forças políticas que, representando em conjunto cerca de oitenta por cento dos portugueses, assumiam expressamente políticas comuns quanto às questões internacionais, máxime europeias, e de soberania e diferenças em matéria económica, social, de modelo de desenvolvimento e de superação das desigualdades.Em parte por causa do “ar do tempo”, mas, também, por responsabilidades próprias, a situação alterou-se significativamente.Ora, não podemos olhar para o futuro, e sobretudo construí-lo, com a visão e os instrumentos do passado.Impõe-se a construção de novos modelos, novas abordagens, capacidade de renovação e sobretudo uma atitude deliberada de querer melhorar. Sem rupturas, sem ajustes de contas com o passado e compreendendo que o nosso “chão comum” é a Constituição da República, tal como a conhecemos ou como a maioria que ela própria exige para ser revista, venha a entender fixar.Portugal precisa de estabilidade política, de mobilização dos portugueses, de um pacto democrático para o desenvolvimento que considere todo o território, de uma profunda e consensual reforma do sistema político e eleitoral, de um pacto que não deixe ninguém fora do sistema ou nas suas margens.Entendo que os principais poderes do Presidente da República são os que não estão escritos na Constituição da República.O poder da palavra, o poder da antecipação, o poder da mobilização dos portugueses, o poder da concertação e da persuasão dos actores políticos. Estes sim são os poderes que podem fazer a diferença.As dificuldades que enfrentamos são muitas e, por isso, é preciso saber optar.Advogado e gestor