Ronaldo vai voltar para o golo 1000 

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Para os que descarregaram as suas frustrações sobre Cristiano Ronaldo, tenho boas notícias: o nosso capitão vai marcar o golo 1000 no Mundial do próximo ano, e eles vão aplaudir! 

No conjunto da sua carreira, Cristiano é o melhor jogador de futebol de todos os tempos. É também o ser humano mais mediático da história da Humanidade. Contudo, é um homem. Ao talento incomensurável, à capacidade de trabalho e à vontade férrea, junta emoções iguais às de todos nós, que aqui e ali o podem remeter para um momento menos feliz. Foi assim na expulsão frente à Irlanda. Os ratos do costume correram para as redes sociais e despejaram os slogans dos frustrados: “está velho, não joga nada, tramou a equipa”. De caminho, bateram também no mister Roberto Martínez, que, entretanto, lhes respondeu com um 9-1 à Arménia. 

Vamos, então, por partes. Primeiro, não foi Cristiano que nos afundou na Irlanda. Quando foi expulso, já estávamos a perder 2-0. Quando muito, teve a sua quota de responsabilidade, dividida pelos onze e pelo treinador. Foi um jogo mau, sem dúvida. Acontece. Neste apuramento já vi a Itália levar 3-0 da Noruega, a Alemanha perder 2-0 com a Eslováquia e a França empatar com a Islândia. No futebol, as contas fazem-se no fim. E a verdade é que fomos apurados e lá estaremos no próximo verão, em terras americanas, para disputar o Mundial. 

Segundo, esta foi a primeira expulsão de Cristiano ao serviço da seleção: uma em 226 jogos! Para um jogador que esteve sempre no centro do furacão, que enfrentou os mais duros e talentosos defesas do mundo – que o marcaram e provocaram impiedosamente – há que dizer que é talvez o mais correto da história. Não esteve no Dragão? Sim, mas é tradição que os jogadores lesionados ou impedidos regressem de imediato aos seus clubes — que, neste caso, fica na distante Arábia Saudita. 

Terceiro, Cristiano foi assediado desde que chegou à Irlanda. O selecionador Heimir Hallgrímsson começou por acusar Ronaldo de ter “controlado” a arbitragem no jogo da primeira volta, em Alvalade, que vencemos por 1-0. Estava dado o mote. No jogo de quinta-feira, os defesas irlandeses mostraram por que razão são oriundos de uma grande nação de râguebi, usando abundantemente os braços para travar a movimentação de um quarentão lusitano que ainda corre mais depressa e salta mais alto do que eles. Num desses momentos, Cristiano deu um chega-para-lá e, na sequência, foi expulso. Não foi violento, não foi o instigador – apenas reagiu. O árbitro fez o que tinha de ser feito; nada a apontar. E não vejo nada que justifique um castigo superior a um jogo. 

Em suma, no futebol nem tudo é lógico, nem tudo é previsível. Importa que, quando se fazem as contas finais, sejamos melhores que o adversário. Vamos ao Mundial e estou certo de que a braçadeira de capitão estará no braço daquele que tanto ama e tanto serviu a nossa camisola — juntamente com os seus excecionais colegas e sob o comando do mister Martínez. E era bonito o golo 1000. 

Professor catedrático

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