'Robots' cirúrgicos e Inteligência Artificial estão a revolucionar a medicina

A cirurgia robótica é uma verdadeira revolução na medicina. O impacto positivo é inegável, especialmente em intervenções mais complexas e delicadas. Com o uso de sistemas robóticos prevê-se uma melhoria contínua das técnicas e tratamentos cirúrgicos, onde a Inteligência Artificial terá um papel relevante.
Publicado a

Já passaram 20 anos desde que realizei a minha primeira cirurgia robótica para o tratamento da obesidade. Desde então, novas técnicas foram surgindo – como o novo conceito da cirurgia metabólica, que corrige os erros hormonais e as comorbidades do doente antes da perda de peso, sendo extremamente facilitadas pela tecnologia robótica – possibilitando o tratamento de doentes mais complexos, como a superobesidade, característica de doentes com Índice de Massa Corporal maior que 50, ou de pessoas com diabetes tipo 2 grave, que têm elevada probabilidade de cura completa através de abordagens inovadoras.

A cirurgia robótica não é apenas um avanço tecnológico, mas uma revolução na medicina, proporcionando novas possibilidades para os doentes e os cirurgiões, com maior precisão, segurança e eficiência. Acredito que, num futuro próximo, todas as cirurgias serão realizadas através de robot, tornando uma raridade a cirurgia aberta convencional e a laparoscopia, uma cirurgia também minimamente invasiva, que serão progressivamente abandonadas.

O tempo de formação de um cirurgião será muito reduzido com a adoção da robótica e da Inteligência Artificial, já que grande parte do treino pode ser realizado através de simulação. Assim teremos cirurgiões que, na sua primeira cirurgia real, já vão ter um nível de especialização avançado.

A cirurgia bariátrica robótica representa um dos avanços mais significativos na medicina minimamente invasiva, combinando tecnologia de ponta com a experiência do cirurgião. Utilizando plataformas robóticas avançadas – como a que agora dispomos no Hospital CUF Descobertas – esta abordagem oferece maior precisão, controlo e segurança em procedimentos para o tratamento da obesidade. Permite também que cirurgias, anteriormente realizadas em duas etapas para doentes mais graves, possam agora ser feitas num único procedimento, graças à redução do risco proporcionada pela robótica.

Entre as vantagens da cirurgia robótica predomina a maior precisão e o controlo dos movimentos do cirurgião durante a intervenção. O sistema robótico traduz os movimentos do cirurgião através de comandos altamente precisos, eliminando tremores e permitindo movimentos mais refinados do que na laparoscopia convencional. Outra vantagem está na melhor ergonomia. Diferente da cirurgia tradicional, em que o cirurgião tem de manter posições desconfortáveis durante longos períodos, a robótica permite que opere sentado numa consola, reduzindo a fadiga e melhorando o desempenho.

Também a visualização 3D e a ampliação da imagem são claras melhorias, garantindo um nível de detalhe superior, ao mesmo tempo que facilitam a identificação de estruturas delicadas e reduzem os riscos de complicações.

Tudo isto resulta numa maior segurança para o doente. Com movimentos mais controlados e um menor risco de trauma nos tecidos, a cirurgia robótica pode reduzir hemorragias, complicações e tempo de recuperação, beneficiando especialmente pessoas com obesidade, que frequentemente apresentam maior complexidade cirúrgica.

A cirurgia robótica também abre as portas para a telecirurgia, permitindo que um cirurgião opere pessoas remotamente com um sistema conectado através da internet. Essa tecnologia pode revolucionar o acesso à cirurgia de alta qualidade em áreas remotas ou com falta de especialistas.

Além disso, possibilita que cirurgiões experientes guiem e supervisionem procedimentos realizados por outros profissionais, localmente ou a grandes distâncias, sem se deslocar, aumentando a segurança e permitindo o treino em tempo real.

Com os avanços da Inteligência Artificial, assiste-se ao desenvolvimento de sistemas que aprendem com milhares de cirurgias realizadas, otimizando as técnicas e sugerindo diferentes estratégias personalizadas para cada doente. Sendo possível que a máquina aprenda, as possibilidades futuras incluem a assistência inteligente, a cirurgia semi autónoma ou, num cenário mais longínquo, totalmente autónoma.

E claro, levanta-se a questão, no futuro quem irá operar? O robot ou o cirurgião? Atualmente, o cirurgião continua a ser o protagonista. O robot não opera sozinho, apenas amplifica as habilidades do cirurgião e permite que realize movimentos mais precisos e seguros.

No futuro, espera-se que a Inteligência Artificial desempenhe um papel cada vez maior na assistência robótica, mas a presença humana do cirurgião vai continuar a ser essencial para a tomada de decisões críticas, o julgamento clínico e a adaptação a situações inesperadas.


Cirurgião Geral, coordenador do Centro de Inovação em Cirurgia e Obesidade no Hospital CUF Descobertas

Diário de Notícias
www.dn.pt