‘Robotaxis’: o futuro em São Francisco é já hoje, mas às vezes empanca

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Chamar um carro através de uma app, depois de ter introduzido o destino e sabido o preço da viagem, é hoje algo banal. Mas em São Francisco, onde estive recentemente em reportagem, a experiência é diferente, se a app for a Waymo. É que nesse caso o carro chega sozinho, e a viagem é feita sem condutor. Experimentei logo no primeiro dia. A condução foi segura, muito respeitadora das regras de trânsito e cheia de cautelas. E voltei a usar dias depois, nessa segunda vez mais descontraído, e até selecionei no sistema do carro, como música ambiente, San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair), cantada por Scott McKenzie. Um clássico, mas percebo que há quem diga que foi um cliché. Como entrar num táxi em Lisboa e pedir para a música ser Lisboa Menina e Moça, de Carlos do Carmo.

No sábado, houve uma espécie de apagão em São Francisco. E os carros da Waymo - Jaguares brancos - tiveram dificuldades em lidar com uma situação quase generalizada de semáforos sem funcionar. Muitos pararam, pura e simplesmente, mas com os quatro piscas ligados. E estes carros empancados contribuíram para engarrafar ainda mais o trânsito na cidade californiana. Há vídeos de condutores a fazer ziguezague para contornar os veículos autónomos momentaneamente parados na rua. O San Francisco Chronicle até fez um título a interrogar sobre a capacidade de resposta dos Waymo durante um sismo.

Num comunicado, a Waymo, que pertence à Alphabet, a empresa dona da Google, explicou que os carros autónomos, robotaxis em inglês, estão programados para lidar com uma avaria nos semáforos como se se tratasse de um cruzamento com quatro sinais de STOP, mas que, desta vez, a disfunção foi tanta na semaforização da cidade que os carros tiveram de parar algum tempo.

A Waymo está presente em toda a região da Baía de São Francisco, e também noutras cidades americanas, como Los Angeles, Phoenix, Austin e Atlanta. E há planos para iniciar atividade em Washington e até em Londres. Na capital britânica também a Uber e a Lyft ponderam uma parceria com a Baidu para introduzir robotaxis de tecnologia chinesa, escrevia na segunda-feira o diário The Guardian.

Se for feita uma busca no Google, há relatos de incidentes com carros autónomos, mas também estatísticas que procuram provar a sua fiabilidade em termos comparativos com a condução por humanos. O futuro do negócio passa por conquistar a confiança dos utilizadores, mas a verdade, posso testemunhar pela minha experiência pessoal, é que mesmo quem não ousa entrar num robotaxi tem já que lidar com eles quando circula de carro nas ruas de São Francisco e, se estiver a caminhar, terá de confiar que respeitam as passadeiras.

A Waymo anunciou ter realizado mais de 14 milhões de viagens em 2025, o triplo do número de viagens em 2024. Desses 14 milhões, duas foram as minhas. Penso que não terei receio de uma terceira vez, ou uma quarta, mesmo sabendo dos problemas que houve durante o apagão em São Francisco (Elon Musk disse que, pelo contrário, os robotaxis Tesla, em testes, se comportaram bem), mas é uma relação de confiança que é muito pessoal e cujo desenvolvimento depende dos carros autónomos irem aperfeiçoando a segurança (há vários projetos a concorrer, incluindo o Zoox, da Amazon). O seu futuro depende tanto da evolução da tecnologia como do enquadramento jurídico e é bem provável que nem todos os países, ou cidades, estejam abertos à experiência. Mas um dia talvez possamos entrar num Waymo (ou afins) e, perdão pelo cliché, avançar ao longo da Avenida da Liberdade a ouvir Amália a cantar Maria Lisboa.

Diretor adjunto do Diário de Notícias

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