Vivemos tempos em que acontecimentos inesperados, cheias, tempestades, deslizamentos ou falhas estruturais, expõem, com brutal clareza, a fragilidade do Estado português. Sempre que uma família perde a casa, sempre que uma rua fica destruída ou uma comunidade fica isolada, percebemos que não é apenas o clima que falha. É um Estado que continua incapaz de prever, prevenir e proteger. Estes episódios não são exceções: são o espelho de um país onde demasiadas pessoas vivem em risco enquanto esperam por respostas que chegam tarde, mal ou simplesmente não chegam. Não é uma questão ideológica, nem um debate entre ambientalistas. É, acima de tudo, uma questão de proteção das pessoas.Em Portugal, demasiadas famílias vivem em situações precárias, em casas sem condições, em zonas que permanecem sem obras estruturais ano após ano. E quando surge uma situação de risco, são sempre os mesmos a sofrer: quem tem menos, quem vive mais afastado dos grandes centros, quem depende de apoios públicos que chegam tarde ou simplesmente não chegam.É neste contexto que assumo o meu trabalho internacional, como Presidente da Delegação Portuguesa da Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo (AP-UpM) e Presidente da Comissão da Energia, do Ambiente e da Água da mesma organização, a única comissão deste tipo dirigida por Portugal no espaço Euromediterrânico. A missão que levo não é apenas discutir metas ambientais, mas defender os interesses do nosso país: a nossa segurança, os nossos recursos, a defesa do território e o apoio às populações.Na COP30, que decorreu esta semana em Belém do Pará, no Brasil, participo como representante oficial de Portugal, ao lado da Ministra do Ambiente e de deputados da Comissão Parlamentar do Ambiente. E é evidente, neste palco internacional, que muitos dos problemas não residem apenas no clima residem na incapacidade dos Estados de cumprir aquilo que prometem, na burocracia que paralisa decisões e na falta de estratégia que deixa comunidades inteiras vulneráveis.Assistimos demasiadas vezes a debates dominados por interesses económicos, por disputas de financiamento e por ONG que colocam a agenda financeira à frente das pessoas. Fala-se muito em “transição”, pouco em quem fica para trás durante esse processo. E é exatamente essa falta de pragmatismo que Portugal não pode aceitar.O país tem metas e compromissos internacionais, alinhados com a União Europeia. Mas o mais importante não são as metas, são as famílias portuguesas. E isso significa agir onde importa: garantir segurança, fazer obras estruturais, apoiar quem precisa, planear com seriedade e, sobretudo, assumir responsabilidade política.A minha presença na COP30 e na AP-UpM reforça o que sempre defendi: que Portugal precisa de uma política forte, pragmática e focada nas pessoas. Menos propaganda, mais ação. Menos discursos internacionais, mais resultados no terreno. Menos compromissos vagos, mais proteção às comunidades.Não defendo um ambientalismo ideológico que vive de slogans. Defendo um Estado que funcione, que invista onde faz falta e que esteja ao lado de quem precisa, sempre. As tragédias que assistimos, pequenas ou grandes, discretas ou mediáticas, lembram-nos que proteger o ambiente é proteger pessoas. E proteger pessoas é o primeiro dever do Estado.O futuro exige responsabilidade, ciência, rigor e, acima de tudo, coragem. Coragem para dizer a verdade, para admitir que o tempo está a esgotar-se e que a política ambiental não pode continuar a ser apenas um capítulo dos discursos internacionais. Tem de ser uma política de vida, que defenda as famílias, os territórios e a segurança de todos.É esta visão que levo comigo, em cada intervenção internacional e em cada discussão nacional. Porque cuidar do ambiente é cuidar das pessoas e é isso que deve mover Portugal.Economista e deputado à Assembleia da República