Reconquista da (auto)confiança!

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“Reconquistar a confiança dos portugueses” foi a expressão escolhida, a 18 de maio, pelo então secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, ao anunciar um novo ciclo político centrado nas eleições autárquicas. A escolha é feliz. Mas talvez devêssemos começar antes pela autoconfiança, porque ninguém reconquista a confiança dos outros se não estiver reconciliado consigo próprio. A reconciliação proposta, justa e necessária, foi, porém, mal entendida por alguns setores socialistas. Em vez de um reencontro genuíno, preferiram um ajuste de contas em nome da unidade, mais ao estilo de Otto von Bismarck do que de Mário Soares. E, como a história ensina, essas reconciliações forçadas acabam sempre mal. O que o PS precisava, e ainda precisa, é de uma reconciliação verdadeira: sem facas longas, sem revanche, sem a obsessão de limpar o passado. O que deveria unir o partido em outubro, agora em janeiro, era a vontade de construir o futuro, não de o disputar dentro de casa. O novo secretário-geral acertou ao criar um conselho consultivo. Mas a direção nacional conseguiu o improvável: juntar na mesma sala três tipos de pessoas. Primeiro, apoiantes de candidaturas autárquicas rivais do PS; depois, nomes com grande prestígio nacional e internacional; e, por fim, um conjunto de veteranos cuja idade média deve rondar, se não ultrapassar, a da reforma. A experiência é valiosa, ninguém o nega. Mas a renovação é vital. O PS parece preso a um espelho retrovisor: o discurso não muda e, paradoxalmente, até os mais jovens soam antigos, como se tivessem medo de parecer novos demais. Os resultados autárquicos dizem tudo. As “figuras nacionais” que o PS apresentou perderam, com exceções honrosas, claro. A explicação oficial foi que as derrotas eram normais em eleições locais. Talvez. Mas talvez os portugueses tenham querido dizer outra coisa: que o tempo pede novos protagonistas, novas vozes e uma nova atitude. Falo com a tranquilidade de quem deu o que tinha a dar e pode agora observar com liberdade e sem ressentimento. Há quem insista em continuar, meio século depois. Nada contra, mas os resultados acabam sempre por falar por si. Há dias, vi um velho camarada no meu “feed” das redes sociais — veterano em tudo, da direção nacional ao Parlamento — a anunciar um projeto de resolução para fazer de certa região a primeira a ter um contrato territorial de desenvolvimento. A mensagem era confusa, o entusiasmo forçado. Fiquei com a sensação de que, mais do que reconciliar o país, ainda há quem precise de se reconciliar com o presente. O PS de hoje parece orgulhar-se da agressividade com que debate. Há quem ache que irritar o adversário é uma vitória política. Mas não é. Não se combate a falta de educação com má educação, nem a violência com mais violência. O silêncio, às vezes, é a resposta mais firme. E, sinceramente, custa ver líderes partidários vangloriarem-se por terem “tirado do sério” o adversário, num tom de tasca, seja em Campo de Ourique, em Massamá ou no Martim Moniz. O país merece mais do que isso.

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