Agosto é, por excelência, o mês da cultura popular. É neste tempo que Portugal reencontra a sua identidade mais genuína aquela que resiste ao tempo, à globalização e ao esquecimento. Para milhares de portugueses, é um dos momentos mais aguardados do ano: o regresso à terra, às festas populares, aos reencontros que alimentam a alma e à celebração das raízes mais profundas. De norte a sul, em cada cidade, vila e freguesia, as ruas enchem-se de cor, música, danças e aromas que evocam memórias de infância, tradições passadas de geração em geração e uma fé que perdura. Mas é no Alto Minho que esta tradição ganha uma expressão absolutamente única um orgulho que se sente no peito e se vive com emoção, ano após ano. Em Viana do Castelo, essa emoção atinge o seu ponto mais alto com a Romaria da Senhora da Agonia, a rainha de todas as romarias. Mas esta não é apenas mais uma festa: é uma afirmação de identidade. Um momento de exaltação da fé e da cultura, um espetáculo de autenticidade, beleza e devoção. Uma celebração que não se explica, sente-se. E quem já participou sabe: não há festa igual. A “chieira”, esse orgulho tão vianense, está presente em cada detalhe, nos trajes bordados à mão, no ouro ao peito que conta histórias de família, nas danças e nos cantares, o brilho nos olhos de quem desfila com o traje da sua freguesia. São as procissões, os tapetes de sal, a fé dos pescadores que vão ao mar. E não há vaidade: há honra. Honra em mostrar ao mundo o que é nosso, o que foi construído com esforço, com amor e com fé. É também por amor que voltam os que partiram, que regressam os que vivem longe, que se unem famílias e vizinhos. É por amor que Viana vibra com alma, orgulho e devoção. A Romaria da Senhora da Agonia é também um poderoso motor da economia local. Atrai milhares de visitantes, dinamiza o comércio, valoriza o artesanato, impulsiona a restauração e o alojamento, e coloca Viana do Castelo no centro do mapa cultural de Portugal. É o exemplo vivo de como a cultura e a tradição podem ser sinónimo de desenvolvimento e sustentabilidade. A cultura popular não é apenas memória: é também presente e futuro. Mais do que uma festa, a Senhora da Agonia é um símbolo maior. Um símbolo daquilo que somos quando estamos juntos. Daquilo que Portugal tem de melhor: a capacidade de preservar a tradição e de a transformar em identidade e força coletiva. Num tempo em que tanto se perde, esta romaria é um testemunho vivo de que o povo ainda sabe quem é e ainda sabe o que ama. Amar a tradição é também amar o futuro. Preservar estas festas é preservar a memória, sim, mas também projetar a cultura, criar oportunidades, incentivar o orgulho local e promover o país. A Senhora da Agonia mostra-nos como a fé e a festa, juntas, podem ser motores de união, de economia e de desenvolvimento sustentável. Que agosto nos traga essa certeza: a de que vale a pena continuar a investir nas tradições, nas festas populares e na cultura do povo. Porque nelas está a nossa identidade e a nossa esperança. Economista e deputado à Assembleia da República