Querer

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Tenho a sorte de ser cristão neste tempo em que no Mundo se fala tanto de preocupações e em que tantas vidas têm sido maltratadas, postas em perigo, ou mesmo perdidas.

A pandemia primeiro, a guerra na Ucrânia depois, a inflação e o aumento das dificuldades que se prevêem para os próximos tempos, as economias a estagnarem e a democracia a ser cada vez mais posta em causa com o extremar das opções políticas na maioria dos países.

Sem fé, pouca possibilidade teria para enfrentar todas estas desgraças.

São incompreensíveis e sem sentido, se não forem complementadas com alguma razão e com muita esperança.

Na minha convicção, Deus criou-me livre de decidir o meu futuro e criou-me com inteligência, mobilidade e sentimentos para que possa ser parte da construção deste Mundo em que vivemos.

E isso dá-me a responsabilidade enorme de me envolver nas decisões que afectam a minha vida e a vida da sociedade que me acolhe e que me recebe.

Por outro lado, dá-me a confiança de que eu posso fazer a diferença e de que eu posso mudar o caminho desta mesma sociedade e deste Mundo.

Que posso não me conformar com aquilo que só acontece, mas que tenho a possibilidade de mudar.

É só preciso eu querer.

E eu quero.

Quero acreditar que não temos de ter medo porque podemos criar alternativas, que podemos ver o lado bom daquilo que nos sucede e não apenas chorar o seu lado negativo.

Podemos olhar a pandemia como uma extraordinária forma de nos ensinar a sermos muito mais versáteis na nossa forma de viver a nossa maneira de trabalhar.

Ver a vantagem que nos trouxe, na nossa percepção de que as pessoas que estão à nossa volta importam muito mais do que antes pensávamos.

E podemos ver nesta guerra uma chamada de atenção para a nossa capacidade de nos preocuparmos com a vida de outros povos e de sermos, nesta sociedade ocidental, capazes de nos unirmos em torno de uma causa comum.

E o extremar das opções políticas pode dar-nos o entendimento de que o anterior caminho que levava a democracia necessita de ser revisto para que possamos voltar a unir-nos dentro de cada país.

Em cada uma destas realidades, cada um de nós pode e deve ter uma palavra a dizer.

Mas nada disto será possível se não tivermos a confiança de que tudo se passa porque este Mundo tem de continuar a ser construído e porque, para isso, cada um de nós tem de participar na sua construção.

Temos de deixar de nos conformar com aquilo que nos acontece e compreender como podemos transformar esses acontecimentos em formas de melhorar a nossa maneira de viver, a nossa sociedade e o nosso Mundo.

Que a vida e a morte fazem parte da nossa existência, que a riqueza e a pobreza apenas podem servir para nos ajudar a fazer a nossa vida e que aquilo que verdadeiramente importa é o que decidimos fazer, participando na construção de um Mundo melhor.

Citando o livro de Eclesiastes "Tudo tem seu tempo... tempo de nascer e tempo de morrer... tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar... tempo do amor e tempo do ódio; tempo da guerra e tempo da paz... Então compreendi que nada de melhor há para o ser humano do que alegrar-se com suas obras..."

Agora, para mim, é o tempo de acreditar que tudo vale a pena e de que juntos seremos capazes de fazer muito melhor.

bruno.bobone.dn@gmail.com

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