Enquanto a UE parece abrandar nas exigências sobre o reporte das práticas de sustentabilidade no seu discurso atual e de forma a não entrar em conflito com os EUA, a presidente do Banco Central Europeu tem feito precisamente o contrário.Países como os EUA, a Alemanha e a França vêm agora defender que o âmbito e a exigência da comunicação das diretivas europeias relativas à comunicação das práticas de ESG das empresas devem ser menores do que o inicialmente proposto. Na minha opinião, esta argumentação deve-se ao contexto conflituoso das relações comerciais entre a Europa e os EUA e à necessidade de, no âmbito político, serem ditas as “palavras certas” para se atingir uma determinada expectativa e criar uma possível perceção da realidade.Estamos num momento difícil de mudança estrutural do modelo económico. A maioria não quer mudar. Estamos naquela fase em que os intervenientes do modelo antigo, Donald Trump, o mundo petrolífero e o mercado de capitais dos anos 80, fazem de tudo para atrasar a chegada de um mundo mais ecológico, com outros riscos para gerir e outros negócios para rentabilizar. Os intervenientes do mundo russo agradecem ao universo o aquecimento global, que lhes proporciona uma imensidão de nova terra arável e fértil para a agricultura. Os intervenientes do futuro, como a China, o Japão e a África, aceleram a criação de políticas e legislação para que o novo mundo mais verde e ecológico chegue mais depressa, tendo já identificado que o seu futuro não pode existir sem gerir o risco climático e social e sem aproveitar as novas oportunidades dos mercados associados a uma economia mais verde. A Europa tem agora de tentar evitar uma escalada de guerras e, para tal, é necessário ter um discurso de cedências políticas que “empurre com a barriga” o andamento das negociações e não crie mais confusão.Mas há muitas formas de se conseguir fazer política pública...Numa carta assinada por Christine Lagarde dirigida parlamento ela afirma que “As alterações climáticas têm implicações profundas para a estabilidade dos preços, devido ao seu impacto na estrutura e na dinâmica cíclica da economia e do sistema financeiro... Para considerar adequadamente as implicações das alterações climáticas e da degradação da natureza, o Eurosistema necessita de dados climáticos suficientes e de alta qualidade”, e que apenas se conseguem obter se as empresas forem obrigadas a montar sistemas de informação adequados. Na realidade, nesta carta que Christine Lagarde escreveu aos membros do parlamento Europeu, afirma também “A redução proposta no âmbito das empresas sujeitas aos requisitos de reporte de sustentabilidade ao abrigo da CSRD limitaria a disponibilidade de dados ao nível das empresas, enfraquecendo assim a capacidade do Eurosistema de realizar uma avaliação granular dos riscos financeiros relacionados com o clima no seu balanço e no âmbito do seu quadro de garantias... Por isso, é importante que estas alterações encontrem o equilíbrio certo entre manter os benefícios dos relatórios de sustentabilidade para a economia europeia e o sistema financeiro e, ao mesmo tempo, garantir que os requisitos sejam proporcionais”.A advertência do BCE é um apelo à responsabilidade coletiva. As empresas e os bancos precisam de estabilidade financeira e económica. Esta estabilidade depende atualmente da capacidade de gerir os riscos climáticos de forma transparente e proativa. Quem hesitar não só põe em causa os lucros futuros e os empregos, como também a saúde da população, e estará a contribuir para o aumento da dívida pública num futuro próximo. Em vez de vermos a sustentabilidade como um custo imediato, é tempo de a compreendermos como um investimento indispensável para a resiliência económica do século XXI.Em suma, quem afirma que o “ESG morreu” está a mentir. Estão a tentar criar um sentimento, através de uma narrativa que pode levar a expetativas que se podem tornar realidade se todos acreditarem na narrativa. No entanto, essa narrativa distorce a realidade.O meu LinkedIn é um enviesamento da realidade, pois está focado de forma positiva nos temas da sustentabilidade. O mesmo se passa com muitos dos vossos perfis no LinkedIn, que não estão ligados ao tema da sustentabilidade e, por conseguinte, também estão enviesados, mas para o lado da negação. O que é certo é que, no meu mundo do LinkedIn, a oferta de trabalho a nível mundial sobre temas de clima, sustentabilidade e ESG é muito maior do que já tinha visto – e ando nisto há 21 anos. Tal significa que, nos EUA, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Ásia, América Latina e África, as empresas e os bancos estão a trabalhar estes temas e a procurar pessoas para o fazer.As empresas portuguesas não devem pensar que o “ESG” já não será necessário. Em vez de serem os políticos a impor, será o Banco Central, através dos bancos, fundos de investimento, seguradoras, etc., o que é muito mais eficiente e eficaz.PhD, CEO da Systemic