Há um ditado popular que diz que “só nos lembramos de Santa Bárbara, quando faz trovões”, com a agricultura é semelhante. A maioria da população do mundo, inclusive Portugal, vive em meio urbano. O seu contacto com o mundo rural, e em particular com a agricultura, resume-se, na esmagadora maioria dos casos, às compras que faz nos supermercados. Não têm a noção, nem a sensibilidade para os problemas do setor, que apesar de ser primário, é fundamental para alimentar os mais de 7 mil milhões de pessoas que vivem neste Planeta. Por isso, começo este texto com uma reflexão básica: a agricultura precisa de saber comunicar. Não se trata de comunicar melhor, mas sim comunicar..O futuro da agricultura por fazer sentir a sua real importância junto de quem decide - sejam decisores políticos, sejam votantes..Portugal e o mundo tiveram uma ideia da importância da agricultura quando durante a pandemia todos se perguntaram como se iria comer no futuro se os agricultores ficassem em casa. No entanto, como tudo se “normalizou”, rapidamente nos esquecemos dessa questão. Os produtos que se consomem diariamente não nascem nas prateleiras dos supermercados, são produzidos por gente que trabalha muitas horas por dia, ao sol e à chuva. Os agricultores necessitam do apoio, sobretudo das pessoas, porque se esse apoio existir os decisores vão atrás. E esse apoio é fundamental na mudança de políticas públicas que necessariamente têm de mudar, e isso só se faz com o dito apoio popular..Mas mudar para quê? Ou mudar como? Aqui deixo algumas pistas daquilo que entendo ser urgente..A necessidade de produzir mais com menos, com menos produtos e produtos mais amigos do ambiente e da saúde obriga a uma parceria entre a academia e a indústria. É, pois, urgente um fundo europeu para a investigação de novos agroquímicos. Ao mesmo tempo, as questões da água têm de ser encaradas. Cada vez chove menos e ainda por cima de forma mais concentrada..Portugal necessita de ter mais barragens. A do Alvito que pode e deve ser de fins múltiplos e publica, é da maior urgência. Sem isso, o Vale do Tejo, a zona mais produtiva da Europa, daqui a umas décadas não vai produzir nada por falta de água. Nesse dia, Portugal ficará totalmente dependente do estrangeiro e temo pela nossa sobrevivência..Outro aspeto importante é a capacidade de organização dos agricultores. Urge mais associativismo e ao mesmo tempo a associação de OPs criando capacidade de verdadeiramente negociar com a indústria e com a distribuição. É nesta matéria imperativo que se proíba, a sério e na prática, a compra de produtos abaixo do preço de custo. É urgente que o Estado regule os preços mínimos, impondo ainda limites as margens de lucros da distribuição e indústria. Podemos começar por uma medida simples: indicar o preço de compra dos produtos aos agricultores de forma que o consumidor saiba o que paga e quanto se pagou a quem o produziu. Uma outra medida fundamental é colocar no rótulo de cada produto a sua origem, a sua pegada ecológica e se cumpre ou não aquilo que a EU impõe aos nossos produtores. Não podemos regredir nas garantias de saúde e ambiente, mas podemos e devemos obrigar a quem é de fora a EU a cumprir as nossas regras. É tempo dos políticos e as populações olharem para quem nos alimenta de uma forma diferente..Hoje, a agricultura usa satélites, drones, tratores de máquinas agrícolas de centenas de milhares de euros com tecnologia de ponta. Trata-se de um setor ambientalmente sustentável. Em 1990, os gases com efeito estufa valiam nos transportes (marítimo e aéreo) 16.6% na Europa. Em 2019 valiam 28.5%, com aumentos de 24%, 34% e 146%, respetivamente. A agricultura baixou as suas emissões de gases com efeito de estufa em 21% entre 1990 e 2019 e está hoje abaixo dos 10%. 10% que, repito, nos permitem fazer algo indispensável à vida. Comer..A agricultura é fundamental. É tempo de a política a colocar no centro das decisões.