Durante a campanha eleitoral, que já começou, no momento em que OE foi chumbado, vamos ouvir dizer, mais uma vez, que estás são as eleições mais importantes de sempre..É sempre assim. Cada eleição legislativa é sempre a mais importante. Faz lembrar os treinadores de futebol, para quem o jogo mais importante é sempre o seguinte..Desta vez, porém, as eleições são mesmo importantes. Porque não está em causa, "apenas", a eleição de um parlamento que dará origem a um governo, mas porque o momento é diferente de todos os outros..A uma crise económica que pode vir a tornar-se desastrosa, soma-se uma crise social que a pandemia deixou a nu e, já agora, uma crise pandémica sem paralelo no último século..Tudo isto seria suficiente..Mas estas eleições, de facto, são importantes por mais razões..Portugal ainda vive à sombra de processos, leis e, em muitos casos, práticas herdadas do PREC..Tem uma organização do estado arcaica, leis a mais, eficácia a menos, produtividade a menos, custos de contexto a mais, demasiados salários mínimos, demasiados impostos, fraca distribuição da riqueza, demasiado estado, demasiada burocracia, demasiada desconfiança dos cidadãos, excesso de zelo. A "reforma" do estado, de que ouvimos falar, pelo menos desde 1987, nunca foi feita numa dimensão e amplitude capaz de, de facto, transformar..As alterações, mudanças e promessas de mudança não foram, até agora, capazes de criar um estado forte e seguro, que responda aos seus cidadãos, que seja capaz de cuidar, de proteger, de garantir igualdade, solidariedade e bem estar. O estado que temos consome seis meses do nosso trabalho por ano para se alimentar, sem nos dar as respostas que precisámos, quando precisamos. É um estado forte com os fracos e fraco com os fortes, com uma justiça lenta, uma educação universal mas de fraca exigência e uma saúde também universal mas débil. Demorada..As mudanças estruturais não se fazem por decreto. Não se mudam mentalidades numas eleições. Não se transforma um país num dia. Mas o que teremos que decidir dia 30 é se chegou a altura de mudar de paradigma, de visão, de construir um país moderno, europeu, forte e competitivo, ou se queremos continuar a utilizar velhas receitas, herdadas de um tempo que já não é este e a fazer de conta que nada mudou, sobretudo nos últimos 20 anos..E, com isto, não estou a falar de partidos, mas uma visão para Portugal. Uma estratégia, um conceito, uma aposta..Provavelmente, os próximos Governos, como acontece por toda a Europa, serão de coligação ou de acordos parlamentares que os sustentem. De geometria variável e de negociação constante. Por isso, é ainda mais importante que haja um caminho que nos permita ser um país melhor, independentemente de quem está no governo..Que comecem, pois, os Jogos. E que cada partido diga com clareza ao que vem e o que propõe. Que escolhas faz. Que país quer. E como tenciona lá chegar. Se for apenas mais uma campanha de sound bites e frases feitas, de acusações e casos, de ataque e resposta, bem podem dizer que estas são as eleições mais importantes de sempre. São. E, por isso, façam o favor de estar à altura dessa importância.. Jornalista