Foi esta semana assinado o contrato de concessão da primeira linha ferroviária de alta velocidade em Portugal, que ligará o Porto (Campanhã) a Oiã, correspondendo ao primeiro troço da futura ligação Lisboa-Porto. Um momento histórico, que merece ser sublinhado e que nos convida a destacar quatro razões para celebrar.Começamos com o tiro de partida que muitos já julgavam impossível. Durante décadas, a alta velocidade em Portugal foi um tema intermitente, tantas vezes prometido, tantas vezes adiado, até cair na categoria das ideias bonitas mas politicamente inviáveis. Muitos já tinham perdido a esperança de viajar, em poucas horas, entre as duas maiores cidades do país, num comboio moderno, rápido e eficiente. Este contrato é, finalmente, o ponto de não retorno: a primeira máquina está prestes a entrar em marcha e, com ela, a certeza de que o país se prepara para dar um salto que peca por tardio, mas que será transformador.O segundo motivo de realce é a entrega desta primeira PPP da alta velocidade a um consórcio português. O agrupamento LusoLAV, liderado pela Mota-Engil e integrando outras empresas nacionais de referência, terá a responsabilidade não apenas de construir a linha e as estações, mas também de assegurar a sua manutenção e disponibilidade ao longo das próximas décadas. Trata-se de um símbolo do renascimento da engenharia civil portuguesa, que após as crises do subprime e da dívida soberana sofreu um forte redimensionamento. Este projeto devolve-lhe um palco de grande escala e visibilidade internacional, que é mais do que merecido.Em terceiro lugar, a coesão territorial. Portugal é um país em que mais de três quartos da atividade económica se concentra no eixo Viana do Castelo-Setúbal. Por outro lado, a excessiva centralização obriga milhares de pessoas a deslocar-se com elevada frequência para a capital, na sua maioria de automóvel, com exceção para os resistentes do Alfa Pendular e para os que recorrem aos autocarros expressos. A alta velocidade promete mudar este cenário, aproximando cidades e regiões, reduzindo tempos de viagem e criando novas oportunidades económicas fora do perímetro lisboeta. Mas a ambição não pode ficar pela ligação Porto-Lisboa: as conexões internacionais Porto-Vigo e Lisboa-Madrid são igualmente estratégicas e urgentes.Finalmente, a dimensão ambiental. A onda de calor que atravessamos é mais uma prova da urgência de agir contra o aquecimento global. A descarbonização não é apenas desejável, é inadiável. Substituir milhões de viagens anuais em veículos movidos a combustíveis fósseis por deslocações em comboios elétricos, rápidos e energeticamente eficientes, é um contributo decisivo para a redução de emissões. A alta velocidade não é apenas um investimento em mobilidade: é também um investimento no clima, na saúde e no futuro.Portugal entra, assim, na rota da alta velocidade ferroviária. Fá-lo com atraso, mas com a oportunidade de aprender com a experiência internacional e de mobilizar o melhor da sua engenharia, da sua capacidade de planeamento e da sua visão estratégica. É um momento para celebrar e, sobretudo, para garantir que o caminho agora iniciado terá sequência. Professor catedrático