Quanto pesa um genocídio na tua consciência?

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Passam já 599 dias desde o início do massacre do povo palestiniano em Gaza, às mãos do governo israelita de Netanyahu. 

A política genocida de Israel atingiu a dimensão de um horror sem paralelo na história da Humanidade dos últimos 80 anos. 

Cerca de 53 mil mortes, 15 mil das quais crianças. 119 mil feridos e milhares de desaparecidos. 430 trabalhadores humanitários mortos, 305 dos quais da ONU. Mais de 1400 profissionais de saúde e 213 jornalistas mortos. 100% da população de Gaza (2,1 milhões de pessoas) em Situação de Insegurança Alimentar Aguda (situação de crise ou superior), sendo que 22% está na fase mais elevada, designada “Catastrófica”. 65% da população recebe menos de 6 litros de água por dia por pessoa para beber e cozinhar (abaixo dos mínimos de emergência). Acima de 92% das crianças até dois anos, mulheres grávidas e lactantes estão subnutridas. 92% das casas estão destruídas ou danificadas. A única unidade hospitalar de tratamento do cancro está destruída e não param os bombardeamentos israelitas a hospitais ou campos de tendas de refugiados. 

Há muito que Israel fez de Gaza um inferno. Agora quer terraplanar o território e apagar dele qualquer vestígio que comprove que ali viveu o povo da Palestina. 

Já não só pela força das bombas, dos tanques, dos mísseis e dos drones. Israel usa agora também como armas a fome, a falta de água e medicamentos, a impossibilidade de acesso a bens essenciais.  

Essa é a consequência calculada e desejada por Israel com o bloqueio da ajuda humanitária. O avanço do genocídio mede-se agora pela barbaridade dos milhares de crianças mortas à fome. 

Nenhum dos pretextos utilizados por Israel para justificar o assalto a Gaza se mantém de pé ante o massacre massivo e indiscriminado de populações civis ou a perseguição aos refugiados. 

Na Cisjordânia, onde não há reféns do Hamas, Israel forçou 42000 pessoas a sair de três campos de refugiados, tendo depois destruído as respectivas infraestruturas civis para impedir o seu regresso. 

Nada disto tem importado aos governos nacionais e à União Europeia que mantêm intocadas as relações políticas e trocas comerciais com Israel. A intenção de rever o Acordo de Associação UE-Israel não é nem suficiente nem atempada para que se possa dizer que a UE está finalmente a fazer o caminho em sentido correcto. 

A cumplicidade de governos nacionais e da UE pesará nas consciências dos seus responsáveis e de todos quantos, por igual atitude cúmplice ou por simples inacção, os dispensaram da pressão política e da acção atempada para salvar os milhares de vidas inocentes a que o exército israelita fria e precocemente põe fim. 

A acção solidária dos povos é o último reduto da esperança para a sobrevivência do povo palestiniano. A denúncia do genocídio e a luta pelos direitos do povo palestiniano é um imperativo de consciência. 

Quem duvidar do papel e da acção que se lhe exige neste momento que se pergunte a si próprio quanto pesa um genocídio na sua consciência. 

Diário de Notícias
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