O divórcio é, por definição, uma rutura que afeta toda a estrutura familiar. E embora o foco recaia frequentemente sobre os filhos menores de idade, é importante reconhecer que os filhos adultos também sofrem — ainda que de forma diferente, mais silenciosa e, muitas vezes, invisível. Há uma ideia errada de que, por já terem crescido, os filhos adultos estão imunes ao impacto da separação dos pais. Mas a verdade é que o divórcio pode abalar profundamente a sua perceção de segurança, identidade familiar e até a forma como se relacionam com os próprios vínculos afetivos. O que muda quando os pais se separam? Para muitos filhos adultos, o divórcio dos pais representa uma quebra na narrativa familiar que os acompanhou durante toda a vida. A casa onde cresceram deixa de existir, as tradições familiares são interrompidas, e o lugar de “filho” pode ser invadido por expectativas de mediação ou apoio emocional. Muitos filhos adultos sentem ainda a pressão de terem de tomar partido por um dos pais o que, naturalmente, gera sofrimento. Além disso, surgem sentimentos de perda, confusão ou culpa. Alguns questionam-se sobre se deveriam ter percebido sinais antes, outros sentem que o seu próprio modelo de relação está comprometido. O impacto pode refletir-se em dificuldades nas suas relações amorosas, na parentalidade ou na forma como gerem conflitos. Os filhos adultos também sofrem — e precisam de espaço para isso. É essencial validar o sofrimento dos filhos adultos. Não é porque têm mais idade que sentem menos. O sofrimento pode ser mais contido, mas não menos real. Precisam de espaço para expressar emoções, fazer perguntas, reconstruir a sua narrativa familiar e, acima de tudo, serem escutados sem julgamento. Como apoiar? Evitar colocar os filhos no papel de mediadores ou confidentes. Reconhecer que o divórcio afeta toda a família, independentemente da idade. Promover espaços de diálogo e escuta, sem exigências ou pressões emocionais. Apoiar a reconstrução de vínculos familiares, respeitando os tempos e limites de cada um. O divórcio pode ser vivido com maturidade e respeito, mas isso exige consciência e cuidado. Os filhos adultos não são espectadores neutros — são parte da história, e merecem ser tratados como tal. Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal