Quando andamos à procura de nós próprios

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Vivemos ao ritmo frenético da modernidade, sempre em movimento, mas tantas vezes sem rumo. O trabalho, as obrigações e a rotina diária acabam por ocupar o centro da nossa identidade, e confundimos produtividade com propósito. Passamos a acreditar que “o que fazemos” define “quem somos”. 

É urgente parar. Respirar. Olhar para dentro. 

Há um silêncio interior que evitamos — não por falta de tempo, mas por receio. Medo de encarar as dúvidas, os desejos reprimidos, as fragilidades que nos habitam. Estar a sós com os próprios pensamentos tornou-se um desafio quase insuportável. 

Mas é nesse espaço de introspeção que surgem as perguntas essenciais: Quem sou eu, verdadeiramente? O que quero — e o que já não quero? Onde encaixo e onde sinto que não caibo? Quais são os meus limites, os meus valores, as escolhas que me definem? 

E será que estou a viver de acordo com aquilo em que acredito? 

Descobrir o “eu autêntico” exige coragem. Coragem para dizer “não”, para abandonar caminhos que já não nos servem, para romper com expectativas alheias e reconectar com o que é genuíno. 

No inspirador livro Sobre o sentido da vida, Viktor Frankl fala-nos da importância de encontrar um norte — um propósito que nos sustente, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Ensina-nos que, mesmo em situações extremas, o ser humano conserva a liberdade de escolher a sua atitude perante o sofrimento. O sentido da vida não é algo que nos é dado; é uma construção pessoal. Pode ser um objetivo, uma missão, uma relação significativa, uma crença ou um compromisso com algo maior do que nós mesmos. 

“Quem tem um porquê, suporta qualquer como”, escreveu Nietzsche. Esta frase resume com precisão a força transformadora de um propósito. O “porquê” é a âncora que nos mantém firmes quando tudo à nossa volta parece desmoronar. Já o “como” representa os desafios da existência — muitas vezes duros, imprevisíveis, dolorosos. Inclui perdas, frustrações, injustiças, obstáculos que parecem intransponíveis. 

Sem um “porquê”, o “como” torna-se insuportável.  

Com um “porquê”, o sofrimento pode ser ressignificado, aceite com dignidade e até superado. 

Se ainda estamos à procura desse “porquê”, é essencial parar e escutar. Aproveitar o silêncio para refletir, sentir, reorganizar. Aprender a ouvir-nos com atenção e compaixão, sendo que este é o primeiro passo para o autoconhecimento. 

É urgente reencontrar-nos no meio do caos.  

Reconectar com o essencial.  

E, finalmente, viver com sentido. 

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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