Quando a pornografia envolve bebés recém-nascidos

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Li recentemente o despacho de acusação de um processo em que o arguido é acusado de dezenas de crimes de pornografia de menores. Na descrição detalhada de alguns desses milhares de ficheiros, podia ler-se que as crianças envolvidas eram bebés recém-nascidos. Bebés recém-nascidos vitimas de sexo oral, vaginal e anal.

Sabemos que a pornografia de menores envolve crianças de todas as idades e, ainda, que os crimes sexuais contra bebés têm vindo a aumentar. Falamos de uma realidade muito perturbadora e incómoda. Mas a verdade, nua e crua, é esta – em muitas pessoas, os bebés não ativam um instinto protetor nem a vontade de cuidar e amar mas, sim, um desejo sexual.

Todas as crianças precisam de proteção e supervisão, e os bebés mais ainda, pela imaturidade e total dependência face ao adulto. Acresce o facto de não saberem ainda falar e, por isso, não conseguirem revelar as situações vivenciadas, pelo que, na prática, são as vitimas perfeitas.

Significa isto que temos todos, sem exceção, de assegurar a proteção dos mais novos e vulneráveis. Esta proteção exige a criação de ambientes seguros e protetores e, também, a adoção de comportamentos adequados por parte de todos os adultos que interagem com estas crianças. Começando pelos pais.

Estamos em plena época balnear e diariamente vemos crianças nuas a brincar na areia e dentro de água. Os pais, orgulhosos, filmam e fotografam os seus filhos e partilham depois esses ficheiros com familiares e amigos, exibindo ainda as suas conquistas nas redes sociais.

O problema é que, como sabemos, uma vez na Internet, para sempre na Internet. Essas imagens não permanecem apenas nos grupos de família e muitas delas acabam mesmo por ser utilizadas em sites de pornografia infantil. A inteligência artificial faz também a sua magia e numerosas imagens são modificadas, de modo a satisfazerem os clientes mais exigentes.

Temos ainda outro problema. É que as imagens dos bebés e crianças que brincam despidas não são captadas apenas pelos seus pais, mas também por estranhos que ali circulam. E temos de admitir que é muito simples, na medida em que basta pegar num telemóvel e, de forma discreta, fotografar ou filmar.

Perante isto, resta-nos constatar o óbvio – é fundamental proteger o corpo das crianças, independentemente da sua idade, mantendo em privado aquilo que é do foro íntimo.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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