O recente encontro de Joe Biden com o Xi Jinping, à margem da reunião do G 20, traduziu-se num "atar de mãos" para Putin. Fechou-se mais uma opção de guerra na trajetória de loucura do ocupante do Kremlin. Sejam armas químicas, biológicas, nucleares táticas ou estratégicas, ou quejandos, Putin ficou a saber, pela concordância dos dois presidentes das maiores potências mundiais, que lhe está, tacitamente, vedado o uso daquele tipo de arsenal militar..A questão da utilização de armas nucleares por Moscovo parece ser uma possibilidade que para Putin está, seriamente, em cima da mesa. Não é em vão que William Burns e Sergei Naryshkin, responsáveis máximos, respetivamente, da CIA e do FSB (antiga KGB) se encontraram em Ankara com o assunto em agenda. Burns terá avisado a sua contraparte das consequências da utilização daquele tipo de armamento no teatro da guerra. Entretanto, vai-se acentuando o isolamento internacional da Rússia. Se em fevereiro último, do encontro entre Xi e Putin tinham saído sinais de uma "parceria sem limites", recentemente, a China através de declarações de fontes oficiais ao Financial Times, afirmou que Putin "não disse a verdade" sobre a guerra na Ucrânia. De facto, a China tem neste "dossier" o desafio de um equilibrismo difícil de conseguir. Está, compreensivelmente, "em cima do muro". Existem na Ucrânia seis mil cidadãos chineses. A China tem uma enorme carência de recursos energéticos para manter em funcionamento a sua economia. E, na Rússia, não falta gás e petróleo para vender. Por outro lado, não está no ADN de Pequim aceitar uma guerra onde não existe o mínimo respeito pelos direitos humanos. Sociologicamente, a guerra não se faz só com pistolas-metralhadoras e mísseis. No terreno os soldados russos têm-se comportado como "gangsters". Roubam, pilham, assassinam. A violência brutal do exército russo leva às últimas consequências as orientações do topo da hierarquia política russa. O nível de pobreza e de educação dos soldados russos expressa-se bem na pilhagem que vão fazendo. Bens pessoais, eletrodomésticos, automóveis, roupa, ouro, nada escapa à voragem das tropas russas. Tornou-se habitual os ucranianos serem despojados dos seus bens pessoais..Nos últimos dias a tensão subiu no panorama internacional. Putin revelou-se um desastroso comandante das Forças Armadas. Soma derrotas atrás de derrotas, sem que se anteveja uma estratégia lógica no conflito. A sua ausência da recente reunião do G 20, o comportamento errático do ministro Lavrov no encontro e os ataques com cerca de cem mísseis desencadeados em várias cidades da Ucrânia mostram bem o desatino que reina no Kremlin. À medida que o Ocidente vai treinando e dotando o exército ucraniano de novas e mais modernas armas de defesa, as forças armadas russas sofrem desaires no terreno. Kherson é a última e mais importante expressão da incapacidade do exército russo em manter posições..Perante a evidência da desorganização e fragilidades do exército russo, Putin decidiu atacar alvos civis. A população ucraniana está sem água, sem luz, sem aquecimento. É a estratégia de terror de Moscovo..Putin transformou-se num abcesso mundial. Esta guerra está beira de vir a tornar-se num conflito internacional. Qualquer incidente que aconteça com um míssil em território de países que pertençam à Nato pode dar origem a um conflito de proporções mundiais..A paz, por enquanto, parece ser uma miragem. A supremacia do exército ucraniano no terreno condiciona, para já, o início de conversações. E a teimosia de Moscovo em não abandonar o território ucraniano ocupado dificulta qualquer passo no sentido da paz. Perante a loucura de Moscovo e a aventura em que Putin meteu todo o mundo resta-nos esperar que as instituições políticas, diplomáticas e militares ocidentais mantenham a cabeça fria, agindo e respondendo com inteligência à crescente loucura de Putin. Que, verdadeiramente, se transformou num abcesso de consequências negativas para toda a Humanidade..Jornalista