A minha leitura da recente visita do Primeiro-Ministro português, Luís Montenegro, à Ásia — que incluiu deslocações à China, Macau e Japão — é a de um momento de afirmação e busca de novos equilíbrios na diplomacia nacional. Entre 9 e 12 de setembro de 2025, Montenegro levou Portugal a dois dos espaços geopolíticos mais dinâmicos do mundo, combinando esforços para reforçar relações políticas e explorar oportunidades económicas.Portugal tem um comércio bilateral com a China que já ultrapassa 1,3 mil milhões de euros por ano, valor que tem vindo a crescer mesmo entre as oscilações de um mercado global volátil. Com o Japão, embora o comércio seja menor — cerca de 800 milhões de euros —, esta relação ganha importância crescente graças à aposta em tecnologia e bens de alto valor acrescentado.Confesso que, na minha opinião, o ponto alto da visita foi o encontro com o presidente Xi Jinping, onde Montenegro não hesitou em fazer um apelo forte: que a China use da sua influência para ajudar a fomentar uma paz justa e duradoura na Ucrânia. Um passo corajoso, com consequências diplomáticas evidentes, como se viu quando, logo após a palavra “Ucrânia” ser proferida, os microfones terão sido desligados e a comunicação social prontamente convidada a abandonar a sala. Este gesto emblemático diz muito sobre as complexidades que envolvem este conflito e as posições embaraçosas que Portugal e também a China tentam navegar.O presidente Xi não deixou de manifestar o seu profundo conhecimento e apreço pela história partilhada entre China, Portugal e Macau. Essa ligação histórica ganhou forma concreta quando Montenegro visitou a Escola Portuguesa em Macau e reuniu-se com Sam Hou-fai, chefe do Executivo daquele território, abrindo espaço para aprofundar cooperação em sectores como energia renovável e inovação tecnológica.No contexto desta viagem terá sido articulada uma chamada para Donald Trump. Admito que me pareceu uma acção de prudência: ao mesmo tempo que agradecia a solidariedade de Trump na sequência da tragédia do Elevador da Glória, Montenegro pareceu querer garantir que, entre laços fortes com a China, Portugal mantinha também firmes conexões transatlânticas. Um jogo delicado com o equilíbrio que se impõe.Não faltaram as vozes de aviso e de crítica, como as de Cavaco Silva, que avisou para não se depositar demasiada confiança na China pelas suas ambições e pelo seu alinhamento com a Rússia no conflito ucraniano. Parece-me, no entanto, que esse alerta foi escutado e integrado, pois a estratégia que presenciei é claramente uma busca de pragmatismo económico que não abdica de responsabilidade diplomática.E quando Montenegro esteve no Japão, com encontros em Tóquio e na Expo Osaka, foi evidente o empenho em elevar a relação para uma parceria estratégica, abrindo portas a investimentos que ultrapassam os 800 milhões anuais, sobretudo em sectores de elevada tecnologia, segurança e inovação.Esta viagem é a tentativa de Portugal colocar a política nacional numa dimensão externa que é vital para a nossa economia tão necessitada de investimentos. Trata-se de afastar a pequena política, muitas vezes centrada em disputas internas, e olhar para o mundo real, onde se decidem oportunidades e futuro.É uma forma de manter, assim, uma voz própria, histórica e bilateral, mesmo no contexto complexo da União Europeia, onde há sempre a tentação de diluir interesses nacionais em discursos comunitários.