Os fundos europeus têm sido encarados, durante décadas, como instrumentos essenciais para o desenvolvimento do país. Apesar de algumas vozes críticas - como a do professor universitário Nuno Palma, autor de “As causas do atraso português”, que compara os fundos europeus ao ouro do Brasil que desincentivou a industrialização do país no século XVIII -, o discurso dominante tem sido no sentido de olhar para os apoios da Europa como fundamentais para a economia portuguesa. Diria que os dois lados terão o seu quê de razão. Os fundos foram essenciais para que Portugal desenvolvesse as suas infraestruturas, nas últimas décadas. Quem nasceu e cresceu fora de Lisboa conhece a importância dos fundos de coesão. Em contrapartida, a dependência de muitas empresas em relação aos fundos é algo que nos devia fazer pensar. Entre outras razões, porque contribui para uma mentalidade de “Portugal dos pequeninos”, em que pode compensar ter uma empresa pequena para poder ter acesso a financiamentos europeus. Em vez de se incentivar a consolidação entre empresas e a criação de grupos de maior dimensão mais competitivos, está-se a fomentar o contrário. Estamos a tentar ser um país de start-ups e de PME, ao invés de procurarmos ser um país de grandes empresas. A mudança de paradigma neste domínio seria importante por duas razões. Em primeiro lugar, porque mais de 90% das empresas portuguesas são micro, pequenas e médias. Muitas delas, de norte a sul do país, estão em processos de sucessão, que por vezes são complicados. Seria muito positiva a existência de um quadro fiscal que favorecesse a consolidação entre empresas, criando players de maior dimensão, capazes de investir mais no país e de ser competitivos no estrangeiro. Em segundo lugar, está provado que empresas de maior dimensão não só conseguem ser mais competitivas como pagam salários mais altos. Vários concelhos que se situam longe dos grandes centros urbanos têm rendimentos médios muito superiores aos de localidades de maior dimensão, precisamente porque contam com grandes empresas que pagam salários mais altos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o concelho com uma média salarial mais elevada em Portugal é a vila alentejana de Castro Verde, com 2479 euros por mês, seguida de perto por Sines e Alcochete. O que têm em comum estes três concelhos? A resposta é simples: grandes empresas industriais que pagam salários muito superiores à média nacional. E acima de cidades como Oeiras (2100), Lisboa (1985) e Porto (1761). Por isso, apostar a sério na consolidação do nosso fragmentado tecido empresarial seria um passo muito relevante para melhorar o nível salarial em Portugal, atrair de volta milhares de jovens que imigraram em busca de melhores oportunidades e aumentar a receita fiscal e as contribuições para a Segurança Social. Temos de deixar de navegar à vista e começar a pensar o país de forma estratégica e com uma visão de longo prazo, mas isso nem sempre dá votos e, no tema em apreço, existem preconceitos ideológicos que fazem com que muitos portugueses olhem para as grandes empresas como as más da fita, em vez de as encararem como importantes agentes de progresso, desenvolvimento e criação de riqueza.