Sem os ecossistemas e a biodiversidade que compõem a biosfera não haveria vida humana no planeta Terra. Porém, e apesar de metade da economia mundial depender de capital natural como matéria-prima, a delapidação dos ecossistemas e a perda de biodiversidade encontram-se atualmente no topo dos riscos ambientais globais, a par das alterações climáticas..Recentemente, o Painel Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES) publicou um relatório sobre o uso sustentável de espécies selvagens e os diversos serviços de natureza que evidencia a relevância crítica de cerca de 50 mil espécies de flora e fauna para a satisfação das necessidades humanas, desde logo, para a alimentação e a saúde..A Humanidade está muito longe de fazer o suficiente para travar a perda de biodiversidade. O incumprimento de todas as Metas de Biodiversidade de Aichi, estabelecidas pelas Nações Unidas, em 2010, na 10.ª Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD), que deveriam ter sido alcançadas até 2020, é um sinal evidente de que estamos a falhar na proteção da natureza..Temos agora os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 das Nações Unidas, e o Pacto Ecológico Europeu (por exemplo, com ênfase nos eixos Estratégia de Biodiversidade para 2030 e Estratégia "Do Prado ao Prato"), para os quais a proteção e restauro dos ecossistemas e da biodiversidade são desafios-chave a alcançar até 2030. A natureza é fonte de vida, saúde, bem-estar e desenvolvimento. Por isso, a valorização do capital natural tem de ser uma dimensão-chave dos negócios, dos sistemas económicos e do nosso modelo de desenvolvimento..A COP15 da Biodiversidade, que decorrerá em dezembro em Montreal (Canadá), tem como principal objetivo a adoção de uma Estratégia Global para a Biodiversidade Pós-2020, visando travar a perda global de biodiversidade até 2030 e promover a recuperação dos ecossistemas naturais. Esse enorme desafio obriga à convergência ativa de todos: setor público, setor privado, universidades, sociedade civil e cada um de nós individualmente..Ao nível das políticas públicas, são necessárias medidas eficazes que assegurem a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas, e o restauro e valorização do capital natural. O desafio do combate às alterações climáticas depende também e em larga escala do contributo da natureza..Por isso, defendemos o reforço dos incentivos à transição para um novo paradigma de bioeconomia circular e de baixo carbono, assente em matérias-primas preferencialmente de origem biológica, renováveis e com níveis de desperdício próximos de zero..Já ao nível das empresas, é fundamental que estas (i) monitorizem e divulguem as suas dependências e os impactos das suas cadeias de valor sobre o capital natural, permitindo aos seus clientes e investidores tomar decisões de consumo e investimento mais informadas; que (ii) estabeleçam planos de ação com metas claras, ambiciosas e alinhadas com a ciência de valorização da biodiversidade e do capital natural, procurando tornar os seus modelos de negócios regenerativos, isto é, com impacto positivo na biosfera; e (iii) contribuam para a consciencialização coletiva sobre a importância do tema da biodiversidade, bem como para a partilha de boas práticas e a construção de parcerias positivas..Caberá às políticas públicas incentivar e reconhecer as empresas que melhor cumpram estas três prioridades..Urge reverter a perda de biodiversidade global e transitar, através da inovação, para um paradigma de economia regenerativa ou nature positive. O BCSD Portugal apela, assim, a que COP15 da Biodiversidade seja um momento de viragem para o reconhecimento da importância da natureza para as nossas vidas e economias, e para a ação coletiva urgente em prol da proteção e valorização da biodiversidade e do capital natural..O Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal ou, em português, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, é uma ONG sem fins lucrativos que agrega e representa mais de 140 empresas de referência no país, que se comprometem ativamente com a transição para a sustentabilidade. https://ods.pt/bcsd-portugal/