Multiplicam-se as notícias sobre a pobreza que atinge idosos, crianças e outras camadas mais vulneráveis da população, incluindo pessoas com deficiência.Os relatos são cruéis e cada situação individual revela injustiças que indignam e revoltam. Uma avó que se vê em situação de pobreza tendo a neta a seu cargo depois do falecimento da filha. Um casal de idosos de saúde debilitada ameaçado de despejo e sem vislumbrar solução caso esse desfecho se concretize. Um outro casal de idosos que, tendo já perdido a casa, faz de um automóvel local de pernoita sem ter onde possa dizer que encontra morada.Dados globais dizem-nos que há em todo o mundo mais de 400 milhões de crianças a viver na pobreza e que uma em cada cinco sofre privações graves ao nível da saúde e bem-estar. Dizem-nos também que em Portugal haverá mais de 2 milhões de pessoas a viver em situação de pobreza. Dizem-nos ainda que a situação está a piorar em comparação com o resto da União Europeia no que respeita à pobreza entre idosos.Há perguntas óbvias a fazer. Como é possível isto acontecer? Como se evitam estas situações e se combate a pobreza? O que é preciso fazer e por onde se começa?As respostas não serão menos óbvias. A pobreza não devia ser possível, mas é incontornável. Num mundo em que a Humanidade dispõe da capacidade de produção que hoje existe é possível produzir o suficiente para suprir as necessidades humanas de forma que não haja gente a viver em situação de pobreza. Esse mundo, no entanto, é um mundo desigual, em que uma minoria se apropria da imensa riqueza criada pela grande maioria. Nessa desigualdade originária encontramos a raiz das raízes, a causa das causas das injustiças e desigualdades económicas e sociais que se multiplicam mundo fora. A pobreza é uma das formas mais agudas que essas desigualdades e injustiças assumem.É essencial a acção direta e imediata sobre todas e cada uma das circunstâncias individuais em que a pobreza se expressa. Essa é a forma de debelar o sofrimento humano individual de quem se vê atingido pela pobreza de forma súbita ou em resultado de uma concatenação de fatores conjugados ao longo da vida e/ou perpetuados em várias gerações.Em simultâneo, é indispensável a acção sobre a causa da pobreza que radica no modo de produção ou sistema económico que a gera. Sem esta acção de carácter estrutural, aquela outra acção conjuntural de pouco servirá, ficando limitada a uma espécie de colocação de remendos num pano que não para de esburacar.Constatando a necessidade de conjugação dessas duas dimensões para que a acção seja consequente, haverá quem se decida levá-la à prática para que todas as vidas verdadeiramente mudem e quem se quede pelo lamento da pobreza alheia.No Parlamento Europeu faz-se esta semana uma primeira votação do texto que há-de ser o relatório sobre a estratégia da União Europeia de combate à pobreza. Ver-se-á também ali quem arregaça as mangas e quem enxuga em seco lágrimas de crocodilo.