Nas últimas semanas, têm aumentado, em Portugal, as ações de protesto agressivo de um certo tipo de jovens ativistas climáticos. Ataques com jatos de tinta a membros do governo; interrupção da circulação automóvel; ações contra a aviação civil; investidas sobre obras de arte; pichagem de edifícios de empresas de produção ou distribuição de energia; destruição de montras de lojas de produtos de luxo..As razões invocadas resumem-se ao seguinte: nem as autoridades públicas nem as empresas estão a fazer o necessário para cumprir as metas promovidas pela ONU do Acordo de Paris (2015) sobre alterações climáticas, e tal circunstância vai conduzir-nos ao desastre..A justificação moral para o tipo de protestos que referi é que os atos e omissões do Estado e das empresas são muito mais graves que as ações de protesto que estão a concretizar-se..Face aos argumentos utilizados, à importância do que está em causa e aos atos praticados, como avaliar e responder a esta situação?.É verdade que não está a ser feito o suficiente, em Portugal e no mundo, para cumprir as metas do Acordo de Paris e das subsequentes convenções relativas ao Clima. É verdade que esta postura pode levar-nos a situações desastrosas, e que os principais prejudicados serão as gerações mais novas e a Natureza..É verdade que existe um certo "autismo funcional" de autoridades públicas e de entidades privadas sobre esta matéria, seja por inércia, seja para o cumprimento de agendas de competitividade e de manutenção de certos modos de vida..É verdade que nem os alertas do Papa ou do Secretário Geral das Nações Unidas -- só para referenciar autoridades consensualmente reconhecidas a nível institucional -- não têm tido muitos resultados práticos..É verdade que os partidos políticos parecem, tantas vezes, mais preocupados em ganhar as eleições seguintes (ou pelo menos, obter resultados que garantam o seu estatuto de Poder) que em ganhar um mundo melhor..É verdade que os movimentos juvenis tradicionais -- nomeadamente, as juventudes partidárias -- não parecem estar a ser capazes de mobilizar nas suas fileiras as vozes da urgência e de influenciar as decisões dos políticos séniores..Face a estas verdades, a alternativa para chamar a atenção são os atuais atos de agitação social a favor do ativismo climático das novas agitações juvenis? Devem os meios de comunicação social dar voz a ativistas climáticos em direto ou em diferido em relação aos atos de agressão que têm praticado?.Vivemos numa Europa e num mundo que parece estar metido numa panela de pressão. E as panelas de pressão, quando não têm válvula de escape, explodem. Os políticos ocidentais tradicionais continuam sem perceber (ou assim parece) que precisam de mudar de discurso, de objetivos e de métodos. O discurso tem de estar mais próximo da realidade que vivemos: desequilíbrios sociais e económicos, problemas ambientais, mudanças de valores. Os objetivos não podem estar, exclusivamente, centrados na gestão do curto prazo, na manutenção ou conquista do Poder e no contentamento das clientelas. Os métodos de operar não se compadecem com as velhas estruturas hierárquicas, precisam de promover novos modelos de participação. Quem não vê isto, está a fechar a panela de pressão ainda mais. As explosões a que corresponde o conjunto de atos praticados pelos ativistas climáticos vão-se multiplicar e, como acontece em outros países europeus, a violência nas ruas pode chegar. Também achávamos que Portugal era impermeável à extrema direita e ela aqui está. Portanto, para responder ao que se passa é preciso ter políticas mais realistas e efetivas face às alterações climáticas, é preciso ter um discurso mais próximo das pessoas e é preciso ter uma gestão do Poder mais participada. Ao mesmo tempo, é um disparate, da parte da comunicação social, estar a dar a cobertura mediática que dá a ações que correspondem a atentados contra pessoas e bens, abrindo microfones aos infratores. Só potenciam o aumento deste tipo de violência. Sugiro que se faça como no futebol: as invasões de campo durante os jogos não são transmitidas e os infratores não são mostrados..Se se continuar a dar este protagonismo à infração, um destes dias vou-me munir de latas de tinta verde para entrar em direto nas televisões.