“Perguntem aos portugueses o que é prioritário”

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"Perguntem aos portugueses que estão a ver a televisão o que é prioritário na vida deles”. Esta frase do Presidente da República ontem, à saída da reunião semanal com o primeiro-ministro, devia ser repetida várias vezes e nos locais onde se juntam políticos e analistas.

Marcelo Rebelo de Sousa tem razão e fez bem em “chamar à razão” quem, porventura, ande distraído a culpar decisões, ou a falta delas, antigas. Por vezes, com uma ou duas décadas.

O caso dos incêndios, que já queimaram mais de 60 mil hectares, é um bom exemplo. Há pessoas a sofrer ao verem o fogo chegar perto das suas casas. A sentirem-se impotentes por não conseguirem salvar alguns bens ou a terem de deixar a casa por precaução devido ao aproximar das chamas. E o que se ouve durante os longos debates e análises televisivas? Temos meios suficientes ou não? Devíamos ter mais meios aéreos. O Estado devia fiscalizar se há proprietários que não limpam os terrenos – lembrando que o Estado é dono de muitos. O comando dos bombeiros devia pertencer à Liga, etc.

São todas questões pertinentes, mas praticamente todas deviam ser resolvidas no inverno e não quando as temperaturas elevadas são propícias ao surgimento de fogos. E, quase de certeza, não são a principal preocupação de quem sofre com os fogos.

Um outro exemplo de tema que provoca inquietação à população: a resposta do setor da Saúde. Esta semana, “um erro humano” fez com que uma grávida tivesse a criança numa rua, enquanto esperava por uma ambulância. Isto depois de num primeiro contacto para a Linha SNS24 lhe terem dito para ir de carro, pois seria mais rápido.

Já para não relembrar os constantes fechos das urgências, para os quais não surgem soluções – só queixas de falta de organização e outras reivindicações idênticas às da maioria da população. A mesma que sofre com a falta de apoio médico.

Terceiro tema: a segurança. Esta semana uma pessoa, alegadamente ligada a um rede criminosa brasileira, foi assassinada na rua, na Póvoa do Varzim, e em Coimbra uma mulher foi morta após ser atingida por golpes de faca. E o que se discute? Que os dados do Relatório Anual de Segurança Interna não espelham a realidade do país, pois não mostram a subida da criminalidade. A questão é: o que acham que preocupa mais as pessoas no seu dia a dia?

Editor executivo do Diário de Notícias

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