Tu ainda pensas? Ou já deixaste que a IA o faça por ti?A IA entrou nas nossas casas, nas nossas empresas, nas nossas escolas e, se não estivermos atentos, entrará nas nossas cabeças em definitivo. O perigo não está na tecnologia. Já disse isto inúmeras vezes. Está, antes, na velocidade com que tu abdicas de pensar. E abdicar de pensar é, claramente, pedir um substituto.As universidades e escolas de gestão estão, talvez, perante o maior desafio da sua história: impedir que o ser humano se transforme num animal domesticado pela conveniência digital. O ensino não pode ser um tutorial sobre ferramentas de IA, instrumentos de IA ou agentes IA. Tem de ser um campo de treino para a dúvida, para a pergunta certa, para o pensamento que incomoda, para a curiosidade intelectual.A IA vai fazer quase tudo melhor do que tu. Vai escrever, desenhar, programar, operar, gerir melhor que tu. Sim, lês-te bem. Quase tudo. Ou tudo. Mas há uma coisa que talvez ela nunca possa fazer: decidir com consciência, verificar criticamente um resultado ou, perante ele, ainda assim dizer que intuitivamente não o queres seguir. Em suma, se deixares de exercitar um músculo, a tua mente, em breve já não saberás o que é liberdade. Começa já a escrever um texto sem IA e verás como estás addicted.O mundo académico tem sido rápido a adotar a IA e lento a perceber o que ela implica. Não basta “usar bem”. É preciso “pensar sobre”. Se o ensino superior se limitar a replicar o algoritmo, está a aprofundar a sua irrelevância. O que distingue um humano de uma máquina é a capacidade de errar, de duvidar, de escolher, de se emocionar, de partir para o mundo com dúvida, com hesitação, com escolhas que nem sempre são o resultado do algoritmo.E ainda há mais um enorme, gigante, senão: Quanto mais depressa deixares de pensar, mais depressa te tornas previsível. E quando fores previsível, serás substituível. Primeiro, pela comodidade de quem obedece. Depois, pela selvajaria de quem já não sabe o que é obedecer. A domesticação vem sempre antes da extinção.As universidades têm de voltar a ser lugares de incómodo. Espaços onde se discute o que não se sabe, onde se treina o raciocínio crítico, onde a IA é apenas ferramenta. Um líder que não pensa é apenas um executante com ego. Sim, com ego. Um estudante/participante que não questiona é apenas um utilizador de aplicações. Nada mais que irrelevante.Parece óbvio, então, que tens de escolher: queres que a IA pense por ti, ou contigo? A diferença parece simples mas, no dia a dia, começa a ser cada vez mais complexa. No primeiro caso, serás útil — até deixares de o ser. No segundo, continuarás humano — e livre.Pensar, hoje, é o último ato de liberdade. Pensa nisto.